POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















sexta-feira, 29 de março de 2019

Godard



Os 10 primeiros filmes de Godard


por Marcelo Costa

Gênio, provocador e revolucionário, Jean-Luc Godard mudou o curso da história do cinema com seu filme de estreia, “Acossado” (1960), uma rara obra em sua filmografia que sobrevive acima do bem e do mal no Fla x Flu do ame-o ou odeie. Suas obras que vieram na sequencia, porém, navegam num oceano de clichês reducionistas por parte dos detratores que elevam termos com “cabeçudo” e “chato” ao status de arte. Com uma carreira vastíssima (seu primeiro curta, “Operação Concreto”, data de 1954; seu trabalho mais recente, o longa “Adeus a Linguagem”, é de 2014), se perder na obra de Godard é um risco sério, mas há algumas pistas que podem facilitar o caminho de interessados, como atentar-se às suas fases:
A primeira, como define Ruy Gardnier no excelente catálogo da Retrospectiva Jean-Luc Cinema Godard, que aconteceu em São Paulo em 2015 (baixe o catálogo aqui), é a Fase Pop, que outros chamam de Primeira Nouvelle Vague, e compreende exatamente os 10 filmes abaixo e praticamente todo o período em que Godard foi casado com a atriz Anna Karina, sua musa presente em sete dos 12 primeiros filmes entre 1960 a 1966 – seis deles integrantes desta primeira fase. “Made in USA” (1966), o sétimo e último, integra o primeiro período de transição do cineasta, do qual ainda fazem parte “Masculino e Feminino” (1966), “Duas Ou Três Coisas Que Sei Dela”, “A Chinesa” e “Week-End à Francesa”, os três de 1967.
A partir de 1968 começa a Fase Militante (ou de Filmes Políticos), que se seguirá até 1972 (e da qual faz parte os filmes “One Plus One” e “Sympathy for the Devil”, sobre a gravação da canção dos Stones – na verdade, sobre muitas outras coisas com a canção como pano de fundo). Outro período de transição surge entre 1974 e 1978 e, então, Godard entra na Segunda Nouvelle Vague, que, segundo alguns estudiosos, vai de 1979 a 1988 (e engloba filmes como “Salve-se Quem Puder”, 1980; “Carmen de Godard”, 1983; “Je Vous Salue, Marie”, 1985; “Detetive”, 1985; e “Rei Lear” – além de “Meetin’ WA”, sobre Woody Allen, ambos de 1987). De 1989 até os dias de hoje, Godard vive sua quarta fase cinematográfica.
Os 10 filmes listados abaixo somam cinco anos de trabalho do cineasta, que, além, filmou mais de 15 curtas neste primeiro período (da Fase Pop). Nestes 10 filmes, Godard vai do romance policial (“Acossado”) à comédia romântica feminista (“Uma Mulher é Uma Mulher”); do filme de guerra (“Tempo de Guerra” e “Um Pequeno Soldado”) ao drama pessoal – e social (“Viver a Vida”, “O Desprezo” e “Uma Mulher Casada”); da ficção científica (“Alphaville”) ao cinema policial (“Bande a Parte”) ao road movie (“O Demônio das 11 Horas”). Em todos os casos, o cineasta francês apenas se apropria do estilo e o utiliza como um trampolim para subverter o cinema e criar algo novo, provocante, palpitante, genial. Abra os olhos (o coração e a cabeça) e mergulhe.
“Acossado” (“À Bout de Souffle”, 1960)
A partir de um argumento de François Truffaut, Godard homenageia o cinema b americano (Truffaut havia feito o mesmo com “Atirem no Pianista” também de 1960) contando uma história batida, ainda que nobre e trágica: Michel (o feio bonito Jean-Paul Belmondo), um malandro que passa o dia aplicando golpes sujos (Marcos, personagem de Ricardo Darin em “Nove Rainhas”, é irmão de alma) acaba assassinando um policial. Ele volta a Paris e tenta convencer a namorada norte-americana Patricia (quantos meninas cortaram o cabelo curto para imitar Jean Seberg na época? Em qualquer sexta no Globo Repórter) a fugir com ele. Ela tem dúvidas se o ama, e ele, apaixonado, está cansado de fugir, mas o cerco se fecha, ela o denuncia e… não se preocupe com a obviedade, pois a história não importa tanto, mas sim a maneira (totalmente desconstruída) com que Godard a conta. A lógica da trama é simples: “Dedos duro deduram; assaltantes assaltam, assassinos assassinam, amantes amam: é normal”, diz Michel em certo momento. Poucos filmes na história do cinema são tão urgentes, revolucionários e, ao mesmo tempo, retratos de época e atuais quanto esta estreia de Jean-Luc Godard em 1960. “Acossado” valoriza a liberdade da filmagem, a força da montagem (recortada e acelerada) e a grande atuação dos atores num daqueles filmes em que a forma, provocativa e instigante, parece sobrepor-se ao conteúdo, mas Godard, aparentemente nonsense, deixa frases soltas que ficam ressoando por dias. Uma obra prima obrigatória para ser ver, no mínimo, uma vez por ano.
“Um Pequeno Soldado” (“Le Petit Soldat”, 1960)
A parceria de Jean-Luc Godard com Anna Karina (que irá totalizar sete dos doze primeiros filmes do cineasta francês entre 1960 a 1966) começa em “Le Petit Soldat”, que Godard filmou na sequencia de “Acossado”, em 1960, tendo como pano de fundo a Guerra da Argélia – entre 1954 e 1962, argelinos lutaram para tornar o país independente da França. Censurado pelo governo francês por exibir cenas de tortura referenciando tanto a Frente de Libertação Nacional da Argélia quanto ao Comando Antiterrorista de Direita francês e repudiado tanto pela Esquerda quanto pela Direita francesa (ou seja, atirando para todos os lados), o filme só chegou aos cinemas em 1963 (três anos depois) exibindo um rapaz refletindo e se questionando por estar perdido em seu próprio espaço tempo, querendo desertar e abandonar uma guerra em que não acredita enquanto se apaixona por uma revolucionária da facção contraria (Anna Karina) e sonha fugir com ela deixando tudo para trás e recomeçando a vida no Brasil. Esse é o filme da famosa frase “A fotografia é a verdade. E o cinema é a verdade 24 vezes por segundo” e funciona como um delicado retrato de época, com uma juventude romântica, confusa e despolitizada que não se sentia representada pela extrema violência que a cercava: “Até aqui minha história tem sido simples: a história de um sujeito sem ideal. E amanhã?”, comenta Bruno Forestier (Michel Subor) logo na abertura do filme, que mantém a radicalização da câmera na mão da estreia enquanto o roteiro cria um interessante painel: Bruno mostra paixão pelas cores, mas seu mundo é preto e branco. Um ótimo filme!
“Uma Mulher é Uma Mulher” (“Une Femme est Une Femme”, 1961)
Hanna Karin Blarke Bayer chegou a Paris com 17 anos (1957) e logo o diretor Jean-Luc Godard se viu apaixonado por ela. Ele a queria para “Acossado” (1960), mas a jovem top model dinamarquesa não aceitou o papel devido a um nu exigido pelo roteiro (que ficou de fora da versão final do filme). Ele não desistiu: casou-se com ela, que passou a ser o principal rosto da Nouvelle Vague. Sua estreia sob as lentes de Godard foi em “Um Pequeno Soldado” (1960), que ficou retido na censura, mas é com “Uma Mulher é Uma Mulher” (o terceiro filme de Godard e o primeiro longa em cores) que Anna Karina desponta para o mundo ganhando o Urso de Prata de Melhor Atriz em Berlim. Homenagem singela aos musicais norte-americanos, “Uma Mulher é Uma Mulher” é uma comédia doce, descompromissada, adolescente e leve que conta a história da stripper Angela (Anna Karina). Ela vive um relacionamento conturbado e apaixonado com Émile (Jean-Claude Brialy) enquanto é cortejada pelo melhor amigo do marido, Alfred (Jean-Paul Belmondo). Feminista por inércia, (“Sou uma fêmea, não uma infame”), Angela quer ter filhos, Émile não, e isso é pretexto para algumas situações provocativas do roteiro, como o marido oferecê-la para passantes na rua (“Por favor, você poderia engravidar a minha mulher?”). Destaque para a trilha invasiva de Michel Legrand, para o roteiro apaixonado (e feminista) de Godard e para Jeanne Moreau, que faz uma ponta, num bar, contando que está filmando… “Jules et Jim”. Um filme simples e eficiente (como Godard raramente seria daqui pra frente) que mantém seu charme.
“Viver a Vida” (“Vivre Sa Vie”, 1962)
No quarto filme de Godard (o terceiro em sequencia estrelado pela esposa), Anna Karina vive o papel de Nana, uma garota sonhadora de 20 anos que trabalha em uma loja de discos e deixa marido e filho para tentar realizar o sonho de ser atriz, não consegue e acaba precisando se prostituir para sobreviver – indo de novata a profissional. Prêmio do Júri em Veneza, “Viver a Vida” é dividido em 12 pequenos atos que permitem a Godard fragmentar a história e divertir-se em cenas que trazem seus personagens de costas para a câmera, como a genial abertura, uma longa conversa no balcão de um bar em que Nana rompe com o marido. Nana flutua entre o ingênuo sonhador e o silêncio contemplativo enquanto Godard explica em detalhes a profissão de prostituta na França (leis, polícia, quanto ganha, quem atender, onde circular, como usar o quarto, etc…) numa metáfora das relações sociais, num plano mais amplo, e das relações no próprio cinema (de ator e diretor), num plano mais fechado, questionando a importância da verbalização: “Quanto mais falamos, menos as palavras significam”, ela diz. Depois pergunta a um filósofo: “As palavras nos traem?” e ganha como resposta: “Nós nos traímos”. Ela questiona o amor, e o filósofo diz que ninguém com 20 anos pode entendê-lo. O olhar de Nana atravessa a câmera (a atriz e sua personagem questionando o marido cineasta e o próprio público). Ela encontrou o amor (Godard também), mas o destino será cruel… no cinema. Um dos melhores Godard da primeira fase (fresco e atual mesmo hoje).
“Tempo de Guerra” (Les Carabiniers, 1963)
Uma comédia nonsense sobre as mentiras da guerra, “Les Carabiniers” se passa em um país imaginário, local em que uma família camponesa bastante pobre (uma mãe com uma filha e dois filhos) recebe a visita de soldados do rei com uma carta de convocação: os dois homens precisam se alistar para ir à guerra. Nenhum dos dois se interessa pelo “convite” do rei, mas os soldados iniciam um processo de sedução que acaba por convencer os garotos: “Vocês podem ter tudo o que quiserem! Tudo que saquearem na guerra será de vocês!”, eles prometem. E os garotos questionam: “Podemos ter mulheres? Rolls Royces? Elefantes? Fábricas de chocolate? Aviões?”. “Sim”, respondem os soldados. “Podemos quebrar o braço de crianças? Massacrar inocentes? E sair dos restaurantes sem pagar?”. “Sim”, respondem os soldados. Convencidos, os dois irmãos partem para a guerra e enviam postais para a mãe e para irmã: “Deixamos atrás de nós um rastro de sangue e morte. Beijos carinhosos”. Em outro: “Espalhamos a morte nas famílias, cumprimos nossa missão sanguinária. Estamos tão felizes com o verão”. A saga termina com o rei assinando um tratado de paz com a nação vizinha que condena como criminosos de guerra todos os homens que lutaram pela pátria. Desta forma, os irmãos são fuzilados. Cinco anos antes de maio de 68, Godard vislumbra a força dos estudantes (que resistem aos espiões do rei e a polícia) nessa colagem recortada e desfocada chamada “Tempo de Guerra”, um filme nonsense, experimental e difícil que fracassou nos cinemas, mas carrega uma ingenuidade comovente.
“O Desprezo” (“Le Mépris”, 1963)
Godard retorna ao cinema “tradicional” neste que é seu primeiro filme fora da França com as filmagens se dividindo entre a mítica Cinecittà, em Roma, e a belíssima Casa Malaparte, com as rochas Faraglioni ao fundo incrustadas no Golfo de Salerno, na Ilha de Capri. Um quinteto de personagens divide a tela: Jeremy é um produtor arrogante e mulherengo (Jack Palance) que bate de frente com o diretor Fritz Lang (interpretando a si mesmo), contratado para filmar a “Odisseia”, de Homero, e escala o roteirista Paul (Michel Piccoli) para mexer no roteiro – de olho em sua bela esposa Camille (Brigitte Bardot no auge). Um dos temas caros do cineasta – a mercantilização da mulher – é sugerido aqui: Jeremy notadamente interessado por Camille convida o casal para ir à sua casa discutir ideias para o filme. No carro, porém, cabe apenas uma pessoa, e Paul pede para Camille acompanhar Jeremy enquanto ele segue de táxi – mas passa por imprevistos e demora no trajeto. Camille, então, se sente “doada” a Jeremy, e imagina que seu marido armou a situação para ela ficar a sós com o produtor, o que garantiria o trabalho. Começa assim uma espiral de afastamento do casal e desprezo: ela já não quer mais dormir com o marido, e como punição a ele cede às investidas do produtor. Outro dos grandes filmes desta primeira fase de Godard, “O Desprezo” traz uma frase clássica – “Quando ouço a palavra cultura, puxo o meu talão de cheques; Anos atrás, quando os hitleristas ouviam a palavra cultura, puxavam o revolver” – que inspirou uma música da banda paulistana Fellini (ouça). Um clássico.
“Bande à Part” (“Bande à Part”, 1964)
Dois outsiders conhecem uma garota (Anna Karina, aqui de cabelos compridos e postura adolescente não exalando a sensualidade a flor da pele de “Viver a Vida” e “Uma Mulher é Uma Mulher”), que conta a um deles que seu tio tem uma fortuna guardada dentro do guarda-roupa (sem tranca, chave, cadeado, nada). Já imaginou o filme inteiro, certo? A forma sobrepõe o conteúdo em “Bande à Part”, mas há subtextos interessantes: se a épica “Odisseia” de Homero movimenta o filme exatamente anterior, “O Desprezo”, aqui Godard opta por adaptar “Fool’s Gold” (1958), romance policial barato da americana Dolores Hitchens, e explica (através de uma professora) no começo do filme que clássico e moderno são equivalentes. Ele usa e abusa do estilismo em várias passagens que ainda soam geniais mesmo sem o contexto de época (repetições de fala, câmera tremida, improvisações e a brilhante cena do literal “um minuto de silêncio” além da dança, que Godard já havia explorado delicadamente em “Viver a Vida”, mas que soa muito melhor resolvida aqui), mas que se perdem em uma história (quase) previsível: a radicalização/desconstrução visual não tem um complemento textual à altura, o que não impede deste ser um dos filmes mais amados da primeira fase do diretor pelos fãs. Ainda assim, o triângulo amoroso consegue cativar o espectador que fica aguardando o desenlace fatídico. O quase entre parênteses tem seu motivo: por mais previsível que o roteiro (de centenas de filmes franceses) seja(m), Godard consegue fugir do estereótipo no desencadear da trama deixando para o espectador um final levemente surpreendente. Detalhe: o nome da produtora do cineasta Quentin Tarantino é… A Band Apart.
“Uma Mulher Casada” (“A Married Woman”, 1964)
Se a improvisação e o tom alegre juvenil movem “Bande à Part”, “Uma Mulher Casada” opta pela via contrária utilizando a frieza e a falta de emoção. A primeira vista, o roteiro é tão óbvio quanto o do filme anterior: uma mulher, Charlotte, está dividida entre o amor que sente pelo marido aviador que passa longos períodos longe de casa e pelo amante ator. Para complicar, está grávida, e não sabe qual deles é o pai. O plot simplista, porém, não impede Godard de desconstruir com elegância uma obra cujo cerne está no subtexto e na forma fria em que o romance (nada romântico) se desenvolve neste triangulo amoroso (sem amor). O foco do cineasta é uma crítica ao capitalismo através do adultério, que aqui resulta da sociedade de consumo, e os personagens, apresentados em fragmentos de closes frios (mãos, costas, pernas, olhos, anúncios, eu te amos, mentiras), algo que o PB amplia, são meros objetos negociados por um sistema que sustenta esse capitalismo. Em muitos momentos, Charlotte, a mulher casada (Macha Méril), se vê envolvida por anúncios de publicidade (a grande maioria de sutiãs) e num trecho direto apresenta, na companhia do marido, sua casa a um amigo como se ela fosse um objeto à venda. Tudo, inclusive ela própria, está à venda. Na trama, o discurso amoroso nada tem de amor afinal tanto ele quanto o sexo são apenas objetos de consumo que replicam clichês de felicidade. Não é a toa que “Uma Mulher Casada” é o primeiro filme a mencionar no cinema o extermínio dos judeus nos campos de concentração nazistas. Na sociedade do consumo, a banalidade do mal impera e o eu suplanta o social. Um pequeno grande filme para se prestar atenção aos detalhes.
“Alphaville” (“Alphaville”, 1964)
Nono filme de Jean-Luc Godard (em quatro anos!), “Alphaville” foi lançado em 1964, mesmo ano de “A Mulher Casada” e “Bande à Part” (este também com Anna Karina), tendo ido mais longe ao ganhar o Urso de Ouro em Berlim, 1965. É uma trama de ficção científica distópica noir em que o personagem central, o anti-herói Lemmy Caution (Eddie Constantine), é um agente secreto enviado para Alphaville, uma nação dominada por um computador que aboliu os sentimentos das pessoas. Anna Karina interpreta a filha do programador que criou a máquina, e Caution precisa tentar livra-la da hipnose social que lhe foi imposta. Godard junta George Orwell (“1984”), Jean Cocteau (“Orpheus”), Paul Eluard (“A Capital da Dor”) e Jorge Luis Borges (os ensaios “Nova Refutação do Tempo” e “Formas de Uma Lenda”, ambas do livro “Outras Inquisições”, coletânea de ensaios lançada em 1952 – no Brasil em 2007 pela Cia das Letras) sob o preto, branco e cinza de uma Paris irreconhecível, modernista e decadente, numa fotografia saturada para defender que a compreensão do eu, através da aceitação das emoções que ousam suplantar a razão (o passional vs racional), é a saída para se defender ante o totalitarismo (tanto capitalista quanto comunista) disfarçado de tecnologia avançada tendo o amor, em primeiro plano na belíssima cena final, como arma para enfrentar o vazio da sociedade. “O que transforma as trevas em luz?”, pergunta o computador em certo momento. “A poesia”, responde Lemmy Caution. Grande filme!
“O Demônio das 11 Horas” (“Pierrot Le Fou”, 1965)
Fechando essa listinha, em seu décimo filme em cinco anos, Godard busca se renovar motivado pelo cenário caótico do mundo (com a Guerra do Vietnã em foco), pelo fim de seu casamento com Anna Karina (a relação durou quatro anos conturbados, com relatos de discussões, paixão intensa, a perda de um bebê e tentativas de suicídio – eles já estavam separados durante as filmagens e voltariam a trabalhar juntos apenas uma única vez, em “Made in USA”, de 1966) e por sua própria absorção pelo meio cinematográfico. Tentando fugir de uma caricatura de si mesmo, ele radicaliza no formato, no fluxo de inconsciência e nas cores pop art ao contar a história simples (inspirada no livro “Obsessão”, de Lionel White) de um marido (Jean-Paul Belmondo) insatisfeito com o amor burguês e a vida que leva a ponto de abandonar esposa e filho fugindo com a jovem amante (Anna Karina) para seguir uma vida e um amor marginal após ela ter assassinado um homem (seria o destino dos personagens de “Acossado” caso ela não tivesse denunciado ele?). O casal começa uma rotina de roubos (que irá influenciar Warren Beatty a desejar contar a história de “Bonny & Clyde”, de 1967) até a tentativa de se aquietar na Riviera Francesa. Ele passa a se dedicar a literatura; ela, entediada, parodia musicais norte-americanos. O desastre é iminente. Godard não sente pena e se despede da sua primeira fase com um filme romanticamente torto e trágico que soa como um bolo de casamento arremessado na cara dos noivos em pleno altar. Ele enterra o cinema noir e a Nouvelle Vague sob uma profusão de cores, premia a traição com uma saraivada de tiros e o romantismo desastrado com um colar de dinamites. Acabou. Godard está pronto para começar tudo de novo… de maneira diferente. E ele não irá perder a oportunidade…
http://ocineclube.com/2016/08/29/10-filmes-essenciais-para-entender-jean-luc-godard/


Locomotiva

esse amor pelos trens
vem desde cedo
desde muito longe
sem medo 
só encanto 
essa locomotiva
louca e emotiva
esses trilhos brilhantes 
essa fumaça
que só me inspira ...

Suspiro


suspiro
quando em você me inspiro
quando imagino
o mais romântico beijo
o mais atrevido carinho
Suspiro
e sussurro em seus ouvidos
os segredos que já foram medos
e hoje são destemidos
suspiro e te cubro de beijos
da cabeça aos pés
em toda a maciez do seu corpo
suspiro e me arrepio
com todos os meus pelos eriçados
e dedos intrépidos
ágeis em lhe fazer carícias
na sua nuca em suas costas
em seus doces mamilos
suspiro...

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Bebel Gilberto - August Day Song

Bebel Gilberto - Far From The Sea

quinta-feira, 28 de março de 2019

Camel

"Oque mais importa é o quão bem você caminha pelo fogo"
Bukowski

esses lábios carnudos 
esse cigarro Camel 
o tabaco turco 
o aroma suspenso no ar 
as lufadas.....

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Abbey Road

Assim Caminha a Humanidade
Abbey Road
a vida contra o tempo
acidentes e circunstâncias
proximidades e distâncias
alguns vivem mais
alguns vivem menos
então devemos ser o quanto antes
nós mesmos
íntegros e mutantes
nos caminhos que temos
Abbey Road
Assim Caminha a Humanidade
na fragilidade da vida
entre nuvens e estrelas
na opacidade e no brilho
o tempo está sempre
à nossa frente
Carlos Gutierrez
poema visual Tonho
A imagem pode conter: céu e nuvem

Angústia

o escritório antigo
tudo bem comportado
a castanha escrivaninha
polida dando ares de espelho
o telefone negro e pesado
a luminária ao centro
dando luz aos papéis burocráticos
o funcionário padrão
todo arrumado e amarrado
em seu terno cinza angústia
e a sua gravata inútil
sobre a camisa engomada
nem percebe o vestido azul
colado da atenta secretária
que puxa uma das gavetas
da estante de aço
com certo embaraço
do outro lado
uma máquina de escrever
com o seu cilindro já ocupado
por uma nova folha
descansa os seus tipos
as suas teclas
esperando alguém
para bater
como existem horas
insuportáveis de viver

Carlos Gutierrez

pintura Edward Hopper

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quarta-feira, 27 de março de 2019

Histórias em Quadrinhos HQs - A Lenda do Fantasma

Flaneur


e rápido
desse vagar
divagar
depressa
ou devagar
desse flanar
desse passeio
simples ou complexo
dessa móvel reflexão
desse relance reflexo
desse viver
intenso
denso
aderente
ou em decalques
eu gosto
desse desassossego
que não estressa
e expressa aconchego
eu gosto de andar a pé
perceber as ruas
as calçadas
as janelas e vitrines
a pele dos pisos
as faces concretas das casas
os olhos amplos das janelas
as pálpebras dos beirais
as pétalas que se dispersam
os frutos que brilham
as folhas que resistem
no corpo da s árvores
e aquelas já clandestinas
eu gosto
isso é tão irreversível
como sonhar a cada passo
o sonho impossível...

Making Off

Olhos vidrados de namoro
todo desaforo
que um ser afoito em lhe amar
consegue exterrnar
contra todo o tempo e lugar
que possa conspirar
Olhos espavoridos
sobre os embaçados vidros
das suas arejadas
desejadas janelas simultâneas
olhos vidrados de namoro
será que sempre a sua lembrança
será o meu consolo?
Ah! se você estivesse na próxima esquina
na convergência de alamedas floridas
mergulhando os seus pés nas pétalas lilases
caídas de um poético ipê-roxo
Ah! se você percebesse ao longe
os meus olhos vidrados de namoro
Você me esperaria por desaforo
prá inverter e subverter
todas as dificuldades
que enfrentamos para um simples encontro
Eu estaria pronto mesmo despreparado
bobo e perplexo
surpreendido e duvidando até dos meus olhos
vidrados de namoro
faria a decupagem de todos os elementos
dessa noturna odisséia
mágica e vital noite
a dissolução da luz opaca da lua
junto com a luz violácea de néon
de um anúncio qualquer
de um out-dor fugaz e sem importancia
incapaz de distrair
os meus olhos vidrados de namoro
Eu quero que você venha
de alguma maneira
Vem de surpresa
vira a mesa
muda o canal
muda o final desse filme
enquanto estou nos preparativos
juntando o acervo de carinhos
Meus olhos vidrados de namoro
são apenas aperitivos
do porre de uma paixão
Quanto tempo dura o amor
nais bem mais que o ardor
da água velva borrifada
na selva da pele do rosto cansado
petrificado
como se fõsse um soldado
um praçinha da FEB
com lembranças cruéis da guerra
da tomada do Monte Castelo
19 graus abaixo de zero
centenas de minas camufladas
espalhadas por todos os caminhos gélidos
Preciso lhe encontrar
lhe provar em todos os instantes
que eu lhe amo...
veja os meus olhos vidrados de namoro

Persevera

E sem celeumas
sem clichês celulóides 
tudo que a alma
pode transcrever
inserir ferir sem doer
sem traumas e hesitações
um jorro verbal
capaz de vibrar e atrair a sua atenção
Alguém a vê
a percebe
e estranho lhe segue
em passos pássaros
com os olhos vidrados
virados em órbitas elucubrações
e sem celeumas
penas e plumagens
sem palavras efêmeras
ou impactantes
como bicos de águias
e somente sementes
com palavras opacas
que as tornam brilhantes
Alguém tenta
lhe descrever
mais do que a seda negra dos seus cabelos
o sorriso pérola
e o vestido preto
com pratas intervenções
que resgata todos os seus doces mistérios
Alguém se declara
no intervalo de cada palavra
que percorre toda a sua feminina frase
na catarse do tempo
Cravo o cravo escravo da paixão
espio espinhos
enfio e desafio cáctus
dilacero folhas
qual incansável formiga
Esguicho a sede bicho
colo a larva
experimento a erva
e tudo que me leva
ao abismo do seu caule
lembrança groselha dos seus lábios
vivas pétalas
para sentir o perfume e a queda
em alguma delas
E seja como for
com qualquer escoriação
me sentir colibri
para absorver toda a fragrância
que ela exala
E todo o jardim apaixonado
que a ela se declara

Paleta

OLHA A VIDA!
PASSOU
EM BRANCAS NUVENS
OU EM CINZAS TEMPORAIS
EM LILASES MISTÉRIOS
EM ROXOS HEMATOMAS
EM AMARELOS GIRASSÓIS
OU TRIGAIS
EM VERMELHOS ESPANTOS
E POLIDAS MAÇÃS DO AMOR
EM SANGUE E GROSELHA
EM RUBROS RUBORES
EM AZUIS REDENTORES
EM VERDES ESPERANÇAS
EM MUSGOS RESMUNGOS
EM FUGAS E FUNGOS
EM MARROM  OCRE TERRA
E TENRA AVELÃ
EM NEGRAS NOITES
EM ÓLEOS QUEIMADOS
EM CARBONO ABANDONO
OLHA A VIDA!
PASSOU
COMO UM FILME EM CORES
TECHINOCOLOR
COMO UMA FÁBULA
CONTOS DE FADAS
E COMO UM FILME NOIR
BRANCO E NEGRO ENIGMA
OU IMAGENS DE TERROR
OLHA A VIDA!
PASSOU
SERÁ QUE ELA REVIDA
OU APENAS SOBREVIVA
NO PORÃO DA MEMÓRIA?

POEMA

POEMA
NÃO REJEITA TEMA
POEMA TEIMA
QUEIMA AS ULTIMAS LETRAS
POEMA É LEMA É LEME
É LEBRE OU LESMA
É TUDO AQUILO
QUE PODE DAR NA MESMA
OU COMPLETAMENTE DIFERENTE
POEMA É O ESPAIRECER URGENTE
POEMA
É PÓ É PODER É PODAR
ATÉ ENCONTRAR
OU IRREMEDIAVELMENTE PERDER
POEMA É PASSO É PESO É PISO
É POÇO É PÚCARO
E AINDA ASSIM PÁSSARO
PESCA DE PALAVRAS
POEMA
PODE SER EMBLEMA
SLOGAM CLICHÊ SACHÊ
BUQUÊ DE VOGAIS E CONSOANTES
PERFUMADAS
POEMA
PODE SER PROBLEMA
OU SOLUÇÃO
SEDUÇÃO SELEÇÃO
SINTOMAS E SINTONIAS
POEMA
PODE SER UMA VIDA TODA
TRANSPOSTA EM UM PAPEL

Hermeto Pascoal - Hermeto (1972)

HERMETO

HERMETO
BRUXO DE TODOS OS SONS
SIMPLES COMPLEXOS EXDRÚXULOS
HERMETO
DE TODOS OS INSTRUMENTOS
CONVENCIONAIS OU INUSITADOS
ALBINO DE SANGUE SONORO
HOMEM CÁNORO
QUE SUPRE E NUTRE O AR
COM NOTAS MUSICAIS
A PAUTA DESCONHECE VOGAIS
E CONSOANTES
TEM O ALFABETO DA ALMA
LINGUAGEM PRÓPRIA
HERMETO
ABERTO OU HERMÉTICO
CINÉTICO
FERMENTA A MÚSICA
COM ELOQUÊNCIA
EXATA FREQUÊNCIA
E ENCANTADOR IMPROVISO
FERVILHA A CHALEIRA
ASPIRA O BICO
E RESPIRA SONS
DE UM CLARO PÁSSARO

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Boicote

BOICOTE
O PACOTE
QUE DENOTE CONTER
COISAS QUE VOCÊ
NÃO PRECISA TER
LIVRE-SE
LIBERTE-SE
DO CONSUMISMO
DESENFREADO
MIRE-SE EM UM ANIMAL
UM CÃO OU UM GATO
ELE SÓ TEM UMA PELE
DIZEM QUE ELE TEM SETES VIDAS
ALGUNS TELHADOS
E UNS MIÚDOS MIADOS
DE CARINHO
OU DE FOME
ÀS VEZES NÃO TERM SEQUER UM NOME
BOICOTE
O PACOTE
COIOTE
O LOTE DE OBJETOS SUPERFLÚOS
QUE MUITAS VEZES
VOCÊ NEM IRÁ DESFRUTAR
NÃO RECORTE
O SEU PRÓPRIO MASCOTE
E DEVOTE IMPORTANCIA
APENAS AO QUE LHE TRAZ RELEVÂNCIA
SEM PULOS DE GANÂNCIA
OU FÚTEIS EXIBICIONISMOS
LIVRE-SE DO PESO
DE QUALQUER PESO
DE REMORSO
OU DE UM EMBRULHO
DE SI MESMO

Nenhuma descrição de foto disponível.

A Cédula

A CÉDULA
INCRÉDULA
DO SEU VALOR
NA MÍDIA
NA MODA
NA MÉDIA
NA MEDULA
TENTA SE PRESERVAR
DAS OUTRAS FALSAS CÉDULAS
COM MARCAS D'ÁGUA
FILETES DOURADOS DE SEGURANÇA
PELE EM RELEVO
PARA SER OLHADA COM OS DEDOS
E ACARICIADA PELOS AVARENTOS
E COBIÇADA PELOS CONSUMISTAS
A CÉDULA CEDE À SEDE CAPITALISTA
A CÉDULA SERVE PARA QUEM NÃO É EGOÍSTA
QUE FAZ DELA UM PAPEL DE CONQUISTA
E TROCA OS CIFRÕES POR ROMÂNTICOS REFRÕES
A CÉDULA TEM O SEU LADO ARTÍSTICO
O SEU LADO LÚDICO
NAS MÃOS DE UM CEGO OU DE UMA CRIANÇA
QUE FAZ DELA UM AVIÃO OU UM BARCO
A CÉDULA
INCRÉDULA
COÇA OU TRANSFORMA EM ESCORPIÃO
CADA MÃO QUE A PEGA
A CÉDULA SOFRE O ASSÉDIO
DO BOLSO DA BOLSA DA CARTEIRA
A CÉDULA AMANTE DO DINHEIRO
ENQUANTO O SEU PAPEL DURAR

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terça-feira, 26 de março de 2019

Admirável Formigável

FORMIGÁVEL
admirável sociedade
incessantes insetos
arrumando a natureza
e os seus dejetos
insetos
alguns viciados em flores
inflam a colmeia tão doce
outros cantam o tempo inteiro
enquanto as formigas amigas sem intrigas
trabalham escavam carregam
revolvem a terra
enquanto ela não sossega
e a rainha se nega a fixar-se
em um só lugar
admirável sociedade
Formigável
que se diverte só com o trabalho

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Revista de Estudos Saramaguianos

A edição n.9 da Revista de Estudos Saramaguianos está online
Este número da RES reúne trabalhos de leitores da obra de José Saramago de Brasil, Portugal, Espanha e Argentina. O leitor encontrará textos acerca de "Manual de pintura e caligrafia" (Maria Regina Barcelos Bettiol), "O conto da ilha desconhecida" (Joana Videira), "O evangelho segundo Jesus Cristo" (um escrito por Francisca Carolina Lima da Silva e outro por Lola Esteva de Llobet), "O último caderno de Lanzarote" (José Joaquín Parra-Bañón), “O ano da morte de Ricardo Reis” (Marco Silva), sobre a crônica (Laura Ventura) a personagem na obra de Saramago (uma leitura de Miguel Koleff e outra de Marisa Leonor Piehl) e uma recensão crítica de Pedro Fernandes de Oliveira Neto sobre “José Saramago entre a história e a ficção. Uma saga de portugueses”, livro de Teresa Cristina Cerdeira, recém-publicado no Brasil no âmbito de uma nova coleção de estudos literários editada pela Editora Moinhos, a Coleção Estudos Saramaguianos. A novidade deste número é que, a partir de agora, se publica um e não dois volumes; antes, editávamos, além da versão em língua portuguesa, uma em língua espanhola. Convidamos a acessar esta e outras edições e saber informações sobre como publicar na revista em: http://www.estudossaramaguianos.com/

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Zé Bonitinho

o mundo já não é o mesmo
partiu para outro
o Zé Bonitinho
o eterno galanteador
que arrancava suspiros
de todas as mulheres
maduras ou brotinhos
partiu o Zé Bonitinho
depois de partir tantos
corações femininos
com o seu olhar sex appeal
de um conquistador irreversível
protegido pelas arqueadas sobrancelhas
negras centelhas
abaixo do seu petulante topete
esculpido com Glostora ou Gumex
com direito a um imenso pente
Lá se foi dessa para melhor
Zé Bonitinho
que exaltava o encanto feminino
com todos os requintes
com o esmero que dedicava
ao seu sutil bigodinho
Zé Bonitinho
que alternava um tango e um bolero
enquanto por ele passavam
várias mulheres
louras morenas ruivas
negras mulatas amarelas
índias capas de revistas
tímidas e singelas
Zé Bonitinho
chamava a atenção
com as suas roupas extravagantes
os seus óculos Ray Ban gigantes
a sua gravata delirante
e os seus bordões inesquecíveis
“Garotas do meu Brasil varonil:
vou dar a vocês um tostão da minha voz...!”;
“Mulheres, atentem para o tilintar das minhas sobrancelhas”;
“O chato não é ser bonito, o chato é ser gostoso”,
entre outras —
Zé Bonitinho
e a sua fina arte da paquera
o seu poder de criatividade
o seu jeito e os seus trejeitos
nada vulgares

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Frágil Idade

Amor ou amizade
paixão ou indiferença
descrédito ou crença
cada um sabe de si
com a sua vida frágil
entre pétalas e espinhos
a flor não escolhe
o melhor jardim
para desabrochar
início meio e fim
tudo é assim!
encanto e desencanto
aroma e veneno
nutrem abelhas e colibris
cada um sabe de si
afia e afina o bico
paga o mico de não resistir
querer tocar a pétala
sugar o néctar
correr o risco espinho
de se ferir
Todos os sentimentos são frágeis
não conseguem gerir digerir e dirigir
o que ainda não sabem bem sentir
só sei que a vida é frágil
e tento ser ágil para prolongar
a minha existência essência
a frágil idade


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segunda-feira, 25 de março de 2019

Sr. Brasil // Daíra cantando Belchior

Prelúdio 2018 | A grande final

Brigadeiros

HUMMMMMMMMMMMMM
EU QUE OLHAVA OS BRIGADEIROS
O CHOCOLATE GRANULADO
NUM DOCE MOSAICO
E FICAVA COM ÁGUA NA BOCA
ANTES AMARGA
E FICAVA COM OS OLHOS VIDRADOS
ANTES OPACOS
E FICAVA COM ESSE QUERO PORQUE QUERO
E NÃO ESPERO
QUANDO O VERSO É CARAMELO
E ME OBRIGA BRIGADEIRO
A PROVAR
HUUUUUUUUUUUUMMMMMMMM
NÃO DOIS TRÊS DEZ CEM
PRÁ FAZER TODO O BEM
PRÁ ADOCICAR E REVITALIZAR

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MAFALDA

MAFALDA
MAL FADADA VIDA
IRÔNICA FERIDA
MÁ FADA
BRUXA TRAVESTIDA
MAIS FRAUDA
A CADA INVESTIDA
MAFALDA
A CALDA EM SUA LÍNGUA
A CAUDA DE TODA INTRIGA
NINGUÉM VIVER À MÍNGUA
E DESFRALDA E DEFLAGRA
TODO O RANCOR
ÁCIDO HUMOR
TUMOR DA ROTINA

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Apressa

apressa.......apressa....
enquanto a sombra não atravessa
o outro lado da parede desconexa
enquanto o corrimão
reconhece a mão
e devagar divaga
cada degrau da escada
enquanto ainda
o superior não é cilada
saliente
enquanto o sapato se conserva
em salto sola palmilha e cadarços
enquanto ouve e reconhece
os sons dos seus passos
apressa......apressa.....
para atingir a outra aresta
e se preparar para outro lance
outra escada que alcance
a distorcida sombra

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Paul Desmond - Cool Jazz, Quiet Melodic Tone, "Like a Dry Martini"

Chet Baker & Paul Bley - Diane (1985)

sexta-feira, 22 de março de 2019

Labaredas


o fogão a gás
a lareira
a sinuosa chaleira
o ferro a carvão
o ferro a vapor
e outras labaredas
vindas dos corpos
e das sedas
ou solidão isopor
o exterior
revela
a combustão
as cinzas
e lacrimeja fuligens
o interior
se aquece
mais do que o suportável
se abafa
vira fumaça
e procura chaminés
nos olhos das paisagens

Partage

Partage
mon île 
part
elle est sa
plus que mon
Partage
domine
Ainsi, il brille
plus que les particules lumineuses
leurs cheveux soyeux
Apportez une pile de livres
Phrases libre et sans peur
Sauvegarder mes versets naufragés
et aussi une bouteille de tequila
ventilation et se venge
l'iceberg qui a percé
et s'est cassé la quille
mes réflexions bateau

Assurez-vous également
apporter
leur ordre du jour
bondé
souvenirs
Mythes et légendes
J'ai tout le temps dans le monde
pirate de tous les temps qui me reste
pratique ce que vous entendiez
et pour tenir compte de son silence
quand sa voix fatiguée
aux quatre vents
Je veux tout savoir sur vous
déchiffrer la carte au trésor
loin de la tempête
et les mauvais présages
Partage
est la bobine
filature
grèves et tire
tous les poissons de couchage
mon aquarium
tous les faisceaux de lumière
Phare de mon avenir
tous les flashs
meeu passé le flou
Pause de l'aquarium
le dôme vitreux de la peur
que me envolve
Verser le cassés
une mer charmes
me afogue de amor
Plus que le partage
part
votre île avec moi aussi
va et vient des vagues de l'eau
il se cache mon paradis
en exil et d'exil 
ses yeux profonds
le rachat des planches irrégulières
où surfé rêves radical
Balsamique et le soulagement de retour
un fakir
Partagez
gratte les cordes du temps
la chanson que le vent
a mon silence
Partage de mon île
mon vaisseau fantôme
mes voiles au goût
brises et des tempêtes
Partagez ce qui l'entoure
la périphérie de mes tourments
et pur qu'il est dans