CARNAVAL
E TODA ESSA FALSA ALEGRIA
ESSA FÚTIL MÁSCARA
ESSA PESADA FANTASIA
ESSE TÉDIO SEM REMÉDIO
ESSA VIDA REMENDADA
PREFIRO O ANDARILHO
AO PASSISTA
Carlos Gutierrez
Excesso
de permissividade resulta em tédio. O carnaval, com sua imposição
publicitária e autoritária de felicidade e alegria, me enche os pacovás.
Qual a razão de quatro dias ininterruptos de dança exasperada,
furunfação explícita e desenfr
eada e
celebração embatucada e vulgar da vida, se tudo isto se dá de maneira
cotidiana atualmente? Na infância, a chegada da quarta feira de cinzas
sempre me soava como libertação da ditadura do contentamento estéril
carnavalesco e como uma abertura à luxúria subversiva da quaresma. Culpa
e redenção são afrodisíacos que elevam a volúpia da transgressão por
caminhos tortuosos. Hoje, nem isto. Saudade dos tempos da inquisição,
quando o pecado era uma diversão diabolicamente metafísica, que
transcendia a carne e o espírito e cheirava a enxofre libidinoso.
Atualmente, prefiro queimar na fogueira do moralismo amoroso como mártir
enjoadinho que viver na bacia morna e modorrenta do capeta, que, por
sua vez, vive na felicidade midiática e estéril.
por Adrilles Jorge
Imagem: Arlequim com copo, "Lapin Agile", Picasso, 1905
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