POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















quinta-feira, 19 de abril de 2018

Não fui Eu

Sou mais átomo 
do que molécula
mais fécula do que massa 
mais ázimo que fermento
mas não fui eu
que você escolheu
não fui eu
nem o que planejava ser
não seguramente não fui eu
quem lhe prometeu
mundos e fundos
musgos e fungos
nem sequer cogite
não hesite em reconhecer
que não fui eu
o seu desvio
o seu curto pavio
a sua sedução
a sua ilusão
o seu desvario
não fui eu
aquilo aquilo que você quer ser só seu
não fui eu
o seus deus inabalável
a sua fé cafuné espiritual
nem o seu duvidar ateu
o seu olhar bondoso
o seu olhar piegas
o seu olhar cruel
o seu céu
o seu inferno
quem pichou o seu muro
no momento mais escuro
quem grafitou o tapume
num lampejo puro lume
não fui eu
nem o susto que lhe acometeu
nem o arbusto que lhe escondeu
não fui eu
que apareceu em seu silêncio
e se perdeu em seu grito ...
Não fui eu
quem foi então
não fui eu
quem poderia ter sido
entre a pele e o tecido
que reveste o seu coração?
não fui eu
quem lhe deu a a opção
tão pouco quem lhe ofereceu
a chave da arca do tesouro
ou o molho da perdição
não fui eu
ora bolas
bolhas de sabão
e tudo se evapora
um dia foge a memória
vem outra estória
outra fábula
outra balela
em qualquer folhetim
mas não pense que quem escreveu fui eu
não sou eu
foram vândalos versos
quem o cometeu
não rimo
não arrumo
namoro alguma palavra
flerto vogais e distantes consoantes
me despeço
me disperso
me desperdiço
me acho
mais ferro do que aço
mais ferrugem do que brilho
me aventuro
mas não fui eu
que sujou o seu muro
e se infiltrou em suas paredes....



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