Mad Men é uma série diferente das que estamos acostumados a assistir semanalmente. Nas suas primeiras 4 temporadas ganhou o Emmy de melhor série da TV americana, mas mesmo assim muita gente que assiste somente a um episódio pergunta como
Mad Men pode ganhar tantos prêmios.
Mad Men tem um ritmo diferente, é exibida num canal de TV a cabo, AMC, e tem somente 13 episódios por temporada. A direção, o roteiro, o design da série trabalham para que nós sejamos introduzidos na série, como se fizéssemos parte daquela mundo, como se estivéssemos vivendo na mesma época em que os personagens. Esse ritmo as vezes parece lento, principalmente na primeira temporada, mas afirmo, se conseguir assistir a primeira temporada e seguir adiante, não irá se arrepender.
O drama que Mad Men apresenta aos telespectadores é também diferente de outras séries. Somos afligidos por questões morais, racistas, feministas e trabalhistas que não fazem mais parte da nossa vida, e que aos nossos olhos parece tão absurdo e causam indignação. Não que outras séries não falem sobre o assunto, mas em Mad Men é como se vivêssemos essa experiência, os assuntos não são debatidos, são experimentados e não tem medo de mostrar cenas fortes, que nos fazem ficar com o estômago embrulhado ao final do episódio.
A série se passa em New York nos anos 50/60, focada em uma agência de publicidade, então já podem imaginar muitas coisas que são mostradas em
Mad Men. As mulheres começando a conquistar seu espaço no mundo dos negócios, tendo que lidar com piadas machistas e mostrar muito trabalho para conseguir uma pequena porcentagem do que os homens conseguem (falamos um pouco sobre as principais mulheres
nesse post). As profissões que os homens da série/época consideram que as mulheres devem exercer são aquelas que eles julgam não dignas para um homem, como professora infantil, secretaria… As modelos e atrizes são objeto de desejo, mas não profissões para suas filhas e esposas.
Apesar do personagem principal da série ser o
Don Draper (
Jon Hamm), que guarda (ou tenta guardar) um grande segredo sobre o seu passado, ao longo das temporadas o foco muda para o núcleo feminino de
Mad Men. É fácil ver a história se desenvolver nos dilemas da vida de três mulheres com objetivos e vidas diferentes na série:
Joan,
Peggy e Betty (e na quinta temporada,
Megan).
Com 5 temporadas já exibidas, a série mostra o crescimento dos personagens num trabalho muito bom de ambientação temporal. Uma das personagens principais,
Peggy Olson (
Elisabeth Moss), consegue ao longo da série ganhar promoções em seu trabalho, mas não sem passar por assédios e muitas dificuldades. Mesmo que ela seja a pessoa mais criativa da agência, atrás somente de Don Draper nos seus melhores tempos, tem que lutar muito para provar seu valor como redatora.
Joan(
Christina Hendricks) também luta do seu jeito para conseguir o que quer. Sabe que o sexo e o corpo é a forma que ela tem de dominar os homens que não a valorizam por seu trabalho.
Betty (
January Jones) por sua vez largou o trabalho para criar uma família, num casamento que a deixa infeliz, mas é sempre preocupada com as aparências.
Mas a série não fala só sobre mulheres, Mad Men aborda muito o assunto pela época em que se passa, com os homens sem saber como reagir à independência feminina do pós guerra, mas vemos grandes acontecimentos mundiais impactarem a história da série, o auge dos Beatles, a crise dos mísseis cubanos, a morte de um presidente, da Marilyn Monroe, do papa… Estes assuntos interferem muito na história, no trabalho dentro da agência, em como as propagandas são criadas, na vida dentro das casas dos personagens.
Bebida, cigarro, carros, sexo também são abordados na série. Tem quem não consiga trabalhar sem um whisky, não consiga ter um casamento sem traição. Esse tema está presente em cada episódio, principalmente quando mostram o núcleo masculino da série, com suas brincadeiras inapropriadas e machismo exagerado.
Mad Men é construída de tal forma que nós nos importamos com os personagens, amando ou odiando-os.
Pete Campbell (
Vincent Kartheiser) consegue ser asqueroso com as mulheres, insuportavelmente ambicioso, tanto que ficamos felizes quando ele apanha da vida, mas consegue nos enternecer em alguns momentos.
Roger Sterling (
John Slattery) é mulherengo e parece não trabalhar hora nenhuma, mas nos diverte em todos os episódios com sua loucura e frases sempre bem humoradas ou quando decide experimentar LSD.
Bertram Cooper (
Robert Morse) e suas manias de velho, acaba sendo desafiado muitas vezes na série.
Temos muitos personagens, todos são bens construídos e nada na série é sem importância. Mad Men tem uma impecável escolha de figurino que atua junto com os atores, as músicas são bem escolhidas (assunto para um próximo post em breve), o roteiro é muito bom. Cada episódio tem falas marcantes que resumem bem a história do dia.
Mas quero finalmente destacar uma personagem que para mim resume a série, interpretada talvez pela melhor atriz do elenco, que está vivendo um momento de descoberta, de transição na vida, está crescendo e deixando a inocência de lado:
Sally Draper da jovem atriz
Kiernan Shipka. Impossível não amar essa garota, que sempre rouba a cena em
Mad Men. Sally é filha de Don e Betty, crescendo num mundo diferente do que a mãe cresceu e vive, ela tem que se descobrir e descobrir a vida de uma maneira própria e muitas vezes sozinha. É má interpretada pela mãe em suas ações, mas é sempre muito mais autêntica do que qualquer adulto da série. Temos grandes expectativas para o futuro da personagem.
Mad Men é isso, uma série com premissa simples e atuação profunda e envolvente, drama dos anos 50 que retrata bem as mudanças que ocorreram na nossa sociedade, como as pessoas reagiram a grandes e pequenos eventos, e mostra principalmente como as pessoas evoluiram e evoluem. Se na maioria dos episódios ficamos amargurados e tocados, ao analisar a série como um todo podemos ter um pouco de esperança de uma vida melhor, que mesmo a passos pequenos conseguimos superar alguns preconceitos, mesmo com tantos ainda a serem transpostos.
Mad Men vale cada minuto.