Aniversário de Kerouac
Hoje é aniversário do ilustríssimo Jack Kerouac (1922–1969). Um dos grandes escritores do século 20, líder da “Geração Beatnik”, que revolucionou a literatura e o comportamento de jovens do mundo inteiro, Kerouac tornou-se uma lenda. Já foi chamado de “papa dos marginais”, “príncipe dos malucos”, “avô de todos os hippies”. No final de 1957, com seu romance recém-lançado “On the road” atraindo elogios unânimes da crítica, Kerouac escreveu uma carta apaixonada para Marlon Brando, em um esforço para levar o livro para o cinema. Mas, infelizmente, Marlon Brando nunca respondeu. Depois de muitos anos de tentativas, Francis Ford Coppola finalmente conseguiu comprar os direitos do livro em 1980. “On the Road” chegou aos cinemas em 2012, em filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles.
Leia a íntegra da carta de Jack Kerouac a Marlon Brando:
* * *
Jack Kerouac
1418 ½ Clouser St
Orlando, Fla
Querido Marlon
Estou orando para que você compre “On the road” e faça um filme dele. Não se preocupe com a estrutura do livro, eu sei que é preciso resumir e re-organizar o enredo um pouco para conseguir uma boa história para o filme, tipo: transformá-lo em uma viagem com tudo incluído, fazer das várias viagens de costa a costa, que estão no livro, uma grande viagem de Nova York a Denver para Frisco ao México para Nova Orleans para Nova York novamente. Eu visualizo as lindas fotos que podem ser feitas com a câmera no banco da frente do carro mostrando a estrada (dia e noite) a partir do pára-brisa, com Sal e Dean. Eu queria você no papel porque Dean (como você sabe) não é maluco, mas alguém muito inteligente (na verdade jesuíta) e irlandês. Você faria Dean e quem sabe eu mesmo como Sal, para lhe mostrar como Dean age na vida real, você não poderia imaginá-lo sem ver uma boa imitação. Verdade, podemos visitá-lo em Frisco, ou encontrá-lo aqui em L.A. para uma rápida aventura real e frenética com muita Oração ao Senhor... você vai entender quando ler algo da Geração Beat. Tudo que eu quero de presente é um valor pequeno para mim e minha mãe, para que eu possa realmente viajar e escrever no mundo todo, Japão, Índia, França, etc... Eu quero ser livre para escrever o que sai da minha cabeça e livre para alimentar os meus amigos quando estão com fome e para não me preocupar com a minha mãe.
Aliás, meu próximo romance é o “The subterraneans” saindo em NY em março próximo e é sobre um caso de amor entre um homem branco e uma menina de cor, muito boa esta história. Alguns dos personagens que você conhece do Village (Stanley Gould etc) também poderiam facilmente ser transformados em literatura, talvez seja até mais fácil do que o que fiz em “On the road”.
O que eu quero agora é voltar a fazer teatro e cinema na América, encontrar um traço espontâneo, remover preconceitos e "situações previsíveis” para deixar que as pessoas possam delirar, como fazem na vida real. Isso é o que a melhor literatura faz: nenhuma culpa em particular, nenhum "significado" em particular, apenas a forma como as pessoas são. Tudo o que escrevo eu faço no espírito que imagino: um Anjo voltou para a terra e o vemos com os olhos tristes que ele tem. Eu sei que você vai aprovar essas idéias, e aliás o novo show do Frank Sinatra tem canções assim, “espontâneas" também, é a única e melhor maneira de lidarmos com o show business ou na vida. Veja que os filmes franceses dos anos 30 ainda são muito superiores aos nossos, porque os franceses realmente deixam seus atores e escritores criarem o novo, sem aquela noção preconcebida de como o público inteligente quer que isso seja, se a alma falar da alma todos entendem de uma só vez. Eu quero fazer grandes filmes franceses na América, finalmente, quando eu for rico... Teatro & Cinema americano no momento são um dinossauro fora de moda que não é mutante, juntamente com o melhor da literatura americana.
Se você realmente quer ir em frente, avise para que eu vá a Nova York na próxima vez, ou se você está indo para a Flórida, aqui estou eu, mas o que devemos fazer é falar sobre isso porque eu profetizo que vai ser o início de algo realmente grande. Estou entediado hoje e procurando alguma coisa para fazer no vazio, de qualquer maneira, escrevendo romances está ficando muito fácil, mais do que criar peças de teatro, a última escrevi em 24 horas.
Venha agora Marlon, colocar sua vaidade neste projeto.
Sinceramente, até mais tarde,
– Assinado: “Jack Kerouac".
(traduzido do original em inglês por José Antônio Orlando).
* * *
Imagem: Jack Kerouac fotografado em Nova York, em 1957, por Jerome Yulsman.
Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/11/desobedeca.html
.
Hoje é aniversário do ilustríssimo Jack Kerouac (1922–1969). Um dos grandes escritores do século 20, líder da “Geração Beatnik”, que revolucionou a literatura e o comportamento de jovens do mundo inteiro, Kerouac tornou-se uma lenda. Já foi chamado de “papa dos marginais”, “príncipe dos malucos”, “avô de todos os hippies”. No final de 1957, com seu romance recém-lançado “On the road” atraindo elogios unânimes da crítica, Kerouac escreveu uma carta apaixonada para Marlon Brando, em um esforço para levar o livro para o cinema. Mas, infelizmente, Marlon Brando nunca respondeu. Depois de muitos anos de tentativas, Francis Ford Coppola finalmente conseguiu comprar os direitos do livro em 1980. “On the Road” chegou aos cinemas em 2012, em filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles.
Leia a íntegra da carta de Jack Kerouac a Marlon Brando:
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Jack Kerouac
1418 ½ Clouser St
Orlando, Fla
Querido Marlon
Estou orando para que você compre “On the road” e faça um filme dele. Não se preocupe com a estrutura do livro, eu sei que é preciso resumir e re-organizar o enredo um pouco para conseguir uma boa história para o filme, tipo: transformá-lo em uma viagem com tudo incluído, fazer das várias viagens de costa a costa, que estão no livro, uma grande viagem de Nova York a Denver para Frisco ao México para Nova Orleans para Nova York novamente. Eu visualizo as lindas fotos que podem ser feitas com a câmera no banco da frente do carro mostrando a estrada (dia e noite) a partir do pára-brisa, com Sal e Dean. Eu queria você no papel porque Dean (como você sabe) não é maluco, mas alguém muito inteligente (na verdade jesuíta) e irlandês. Você faria Dean e quem sabe eu mesmo como Sal, para lhe mostrar como Dean age na vida real, você não poderia imaginá-lo sem ver uma boa imitação. Verdade, podemos visitá-lo em Frisco, ou encontrá-lo aqui em L.A. para uma rápida aventura real e frenética com muita Oração ao Senhor... você vai entender quando ler algo da Geração Beat. Tudo que eu quero de presente é um valor pequeno para mim e minha mãe, para que eu possa realmente viajar e escrever no mundo todo, Japão, Índia, França, etc... Eu quero ser livre para escrever o que sai da minha cabeça e livre para alimentar os meus amigos quando estão com fome e para não me preocupar com a minha mãe.
Aliás, meu próximo romance é o “The subterraneans” saindo em NY em março próximo e é sobre um caso de amor entre um homem branco e uma menina de cor, muito boa esta história. Alguns dos personagens que você conhece do Village (Stanley Gould etc) também poderiam facilmente ser transformados em literatura, talvez seja até mais fácil do que o que fiz em “On the road”.
O que eu quero agora é voltar a fazer teatro e cinema na América, encontrar um traço espontâneo, remover preconceitos e "situações previsíveis” para deixar que as pessoas possam delirar, como fazem na vida real. Isso é o que a melhor literatura faz: nenhuma culpa em particular, nenhum "significado" em particular, apenas a forma como as pessoas são. Tudo o que escrevo eu faço no espírito que imagino: um Anjo voltou para a terra e o vemos com os olhos tristes que ele tem. Eu sei que você vai aprovar essas idéias, e aliás o novo show do Frank Sinatra tem canções assim, “espontâneas" também, é a única e melhor maneira de lidarmos com o show business ou na vida. Veja que os filmes franceses dos anos 30 ainda são muito superiores aos nossos, porque os franceses realmente deixam seus atores e escritores criarem o novo, sem aquela noção preconcebida de como o público inteligente quer que isso seja, se a alma falar da alma todos entendem de uma só vez. Eu quero fazer grandes filmes franceses na América, finalmente, quando eu for rico... Teatro & Cinema americano no momento são um dinossauro fora de moda que não é mutante, juntamente com o melhor da literatura americana.
Se você realmente quer ir em frente, avise para que eu vá a Nova York na próxima vez, ou se você está indo para a Flórida, aqui estou eu, mas o que devemos fazer é falar sobre isso porque eu profetizo que vai ser o início de algo realmente grande. Estou entediado hoje e procurando alguma coisa para fazer no vazio, de qualquer maneira, escrevendo romances está ficando muito fácil, mais do que criar peças de teatro, a última escrevi em 24 horas.
Venha agora Marlon, colocar sua vaidade neste projeto.
Sinceramente, até mais tarde,
– Assinado: “Jack Kerouac".
(traduzido do original em inglês por José Antônio Orlando).
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Imagem: Jack Kerouac fotografado em Nova York, em 1957, por Jerome Yulsman.
Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/11/desobedeca.html
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