POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















quinta-feira, 5 de junho de 2014

VARAL

VARAL

VESTIDOS ANÁGUAS E REGATAS
SE ACOMODAM E SE ENTRELAÇAM
SOBRE O FRÁGIL VARAL
QUE COBRE O OLHO DE PEDRA BEIRAL
DA FACE PÉTREA E CORROÍDA
DE UMA PAREDE AINDA COM SEDE
DE REFLETIR O TEMPO
HÁ UMA REGATA VERDE LIMÃO
FOSFORESCENTE QUE RESGATA
A FRUTA ÁCIDA MERGULHADA NO RUM...
EM OUTRA ÉPOCA EU TINHA APENAS UM JEANS
CONHECIA CADA REBITE
CUIDAVA COM ZELO CADA SELO DE COURO OU TECIDO
CONHECIA CADA TRAMA DA COSTURA AMARELA
E SOBRE O JEANS A CAMISETA COM UM RETRATO DE CHE GUEVARA
HÁ TANTAS ROUPAS SOBRE O VARAL
QUE ELE CONVERGE
A SEDA CONCEDE UM BEIJO NO RÚSTICO ALGODÃO
A LINGERIE NÃO LIGA E SE ESFREGA AO QUE FOI UMA CALÇA LEE
AS ROUPAS ESPERAM SECAR E COBREM A JANELA
ENQUANTO ATRÁS DELA ALGUÉM AS VÊ FLUTUAR
AO SABOR DOS VENTOS

Carlos Roberto Gutierrez










para não perder a foto
para preservar a imagem poética
para lembrar que Havana ainda existe
e Cuba resiste
e que ainda há um elo mesmo enferrujado
atrelado aos Anos Dourados
é que ainda alguém possa ser belo
mesmo com uma muda de roupas
e um "puro" apagado na boca...
um Simca Chambord ainda finca
o seu rabo de peixe no fraturado asfalto...



(foto: Nelson de Souza, feita em Havana - Cuba)

Nenhum comentário:

Postar um comentário