Maçãs
E deixar pra trás todas essas varandas?
Deixar escrito flores, floricultura, gotas de chuva?
Deixar aqui toda essa coca-cola-chiclete-cinzeiro?
E tem tanto som em minha garganta!
Pra trás deixar um pomar de plástico
com frutas de isopor em terra
de vidro em pó e farinha de trigo,
porque pisar nesse veludo
e beijar a cara amassada do travesseiro mal dormido
em noite de sol, j
já não convém ás minhas divagações levemente trincadas,
restauradas com goma à base de pólen, alcatrão e trivialidades.
E num dia, hoje talvez, romper a cápsula guardiã
da fluorescência magnífica que adjetiva
a tal poliglota refinada musicista pra permanecer intacta
e repousante no seu cotidiano maléfico, sangue, nervos e tecidos,
sejam tecidos estampados ou negros,
não importa porque a porta do sorriso sempre fica aberta.
E deixar tudo isso pra trás? São tantas frutas brotando!
Talvez eu deixe ou leve pra trás.
Talvez, uma vez, não sei.
Talvez tudo não passe de um belo pomar.
Desirée Gomes
E deixar pra trás todas essas varandas?
Deixar escrito flores, floricultura, gotas de chuva?
Deixar aqui toda essa coca-cola-chiclete-cinzeiro?
E tem tanto som em minha garganta!
Pra trás deixar um pomar de plástico
com frutas de isopor em terra
de vidro em pó e farinha de trigo,
porque pisar nesse veludo
e beijar a cara amassada do travesseiro mal dormido
em noite de sol, j
já não convém ás minhas divagações levemente trincadas,
restauradas com goma à base de pólen, alcatrão e trivialidades.
E num dia, hoje talvez, romper a cápsula guardiã
da fluorescência magnífica que adjetiva
a tal poliglota refinada musicista pra permanecer intacta
e repousante no seu cotidiano maléfico, sangue, nervos e tecidos,
sejam tecidos estampados ou negros,
não importa porque a porta do sorriso sempre fica aberta.
E deixar tudo isso pra trás? São tantas frutas brotando!
Talvez eu deixe ou leve pra trás.
Talvez, uma vez, não sei.
Talvez tudo não passe de um belo pomar.
Desirée Gomes