POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Quase silêncio

ENGASGA
DÁ UM NÓ NA GARGANTA
MAS NÃO ADIANTA
A PALAVRA SILÊNCIO
QUASE TRANSBORDA
E RECORDA GRITO
ATRITO
NA BIGORNA DE TODOS OS SENTIDOS
A PALAVRA SILÊNCIO
NÃO EXISTE
HÁ SEMPRE UM MURMÚRIO
OU ATRASADO ECO
QUE RESSOA
E REVELA A NOSSA PESSOA
OCULTA
 
Carlos Gutierrez

DESPROVIDO

DESPROVIDO

VIDRO
METAL
SEM DEFESAS
SEM ESPERAS
SEM ESFERAS
ILESA
ILUSÓRIA
MÓVEL DIVISÓRIA
ENTRE MUDAS PAREDES
E FANTASMAS
QUE NÃO ASSUSTAM MAIS
DESPROVIDO
DESLOCADO
NÃO DIVISÍVEL
DES PRO PÓ SI TO
DEPÓSITO
 
Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de escultura

[Impressionante obra do artista sul-africano Regardt Van Der Meulen]

DESPEJA

DESPEJA

TODAS ESSAS CORES
ESSE CROMÁTICO DESPOJAR
PARA ALEGRAR UM OLHAR
PARA PINTAR UM SONHO
COM TRAÇOS ENVOLTOS
DE LUMINOSIDADE
DESPEJA
PELA JANELA
O TRABALHO DE LÁPIS DE COR
E O DESCANSO AQUARELA
RELÊ A ALEGRIA DE VIVER
DE MATISSE
NÃO DEIXE
DESCASCAR
AS TINTAS
DO QUADRO DA SUA GALERIA
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
 
- Acrilico - Daniela OLiveira

Beijo de Warhol

Beijo de Warhol

É uma notícia surpreendente: 300 desenhos inéditos de Andy Warhol foram descobertos pelo crítico de arte e curador alemão Daniel Blau. A maioria foi feita em grafite sobre papel, com 45,3 por 40,9cm e algum retoque de tinta ou aquarela. São muitos estudos anatômicos do torso masculino, retratos de mulheres (quase sempre inspirados em senhoras da alta sociedade que frequentavam as colunas sociais), rostos de crianças e cupidos barrocos, mãos em muitos ângulos e variações de perspectivas, estrelas de cinema, pessoas anônimas a dançar, beijos de jovens casais...

Veja mais em:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2013/01/o-primeiro-warhol.html

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2012/11/retrato-de-marilyn.html
.

BILLIE

Uma lenda

“Strange Fruit” era muito diferente de tudo o que Billie Holiday interpretara até então: não lembrava as baladas de amor que ela havia gravado e tampouco se alinhava à tradição do blues ou às inovações estilísticas do jazz. A interpretação de Billie, sua agonia pessoal, acentuava o tema angustiante da canção – um grito contra o racismo. A mais mítica dos intérpretes do jazz e do blues, a cantar com sua voz etérea e levemente rouca “Strange Fruit” forçou toda uma nação a enfrentar seus mais sombrios impulsos...

Imagem: Billie Holiday fotografada por Elliot Erwitt em 1958 no Bop City Nightclub, Nova York...

Veja mais em:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2012/08/biografia-de-uma-cancao.html

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2011/07/ha-um-conto-de-cortazar-publicado-em.html
.

INTERVENÇÃO

PÕE UM OLHO DE CORUJA EM SUA FACE
E NÃO FUJA DA NOITE NEM SE DISFARÇE
PÕE UMA ORELHA DE ELEFANTE
NA MOLDURA DO SEU ROSTO
PARA OUVIR TODOS OS SONS
E BURBURTINHOS QUE DÃO GOSTO
EM VIVER A VIDA
PÕE UM NARIZ DE PINOCHIO
PARA ABSORVER TODOS OS AROMAS
E FLORES MENTIRAS
PÕE UMA BOCA DE PALHAÇO
LOGO EMBAIXO PARA NÃO PERDER O SORRISO
E CAUSAR TODO POSSÍVEL ESTARDALHAÇO
PÕE UM QUEIXO DE UM HIPOPOTÁMO
EM PLENO DESLEIXO
PARA MOSTRAR-SE SEMPRE SURPREENDIDO
PÕE UM GEL OU UM LAQUÊ
PARa SEGURAR AS SUAS IDEIAS
EM TODO CABELO ESCORRIDO
FAÇA A SUA INTERVENCÃO
MOSTRE A SUA INVENÇÃO
QUEBRE O ESPELHO
DO QUE JÁ  NÃO É MAIS VOCÊ

Carlos Gutierrez


poema em forma de intervenção

Samba-Canção

Tantos poemas que perdi
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhado na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica,
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário, cara
pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…

“Samba-Canção”, um dos belos poemas de Ana Cristina Cesar (1952–1983), que completaria 60 anos no dia 2 de junho de 2012...

Veja também:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2013/02/poeta-leminski.html
.

JIM JAMAIS MORRE O SOM

JIM JAMAIS MORRE O SOM

TUDO PODE PARECER SER RUIM
TUDO PODE PARECER RUIR
TUDO PODE CAIR
DESMORONAR
DE UM MOMENTO PARA OUTRO
TUDO PODE SER DESABAFADO
NUM POEMA RÁPIDO
ESCRITO NUM GUARDANAPO
OU NUM GOLE RÁPIDO
DE UM GIM TÕNICA
OU NUM ACORDE MAIS PROLONGADO
DE UMA GUITARRA
QUE UM DIA SONHOU SER CIGARRA
NUMA CORDA DESSE ELÉTRICO INSTRUMENTO
QUE ARREBENTOU
E PARTIU PARA OUTRA CANÇÃO
JIM JAMAIS MORRE O SOM
OPEN DOORS
OPEN WINDOWS
OPEN HEARTS
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
35# When You're Strange: Um Filme Sobre o The Doors (2009), Tom DiCillo.

QUE DOCUMENTÁRIO! Obra-prima. Revi hoje e achei ainda melhor... a narração do Depp bacanérrima, imagens raras e sensacionais. É difícil ser imparcial, tratando-se de Jim Morrison, mas acredito que o doc. faz bem nesse sentido.

Um Jim poeta, fã de Elvis, Sinatra e William Blake. ♥ Who abrindo o show. ♥ Jim mudando a letra ao vivo, desafiando a TV. ♥

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Me Recita

ME RECITA
ME RECEITA
ME INCITA
A ESTAR A ESPREITA
NA LINHA TORTA
OU DIREITA
ME RECITA
DÊ VOZ ÀS MINHAS MUDAS PALAVRAS
SONORIZE
O QUE AINDA É SILÊNCIO
O QUE ENCABULA
ME RECEITA
DECIFRE A BULA
NÃO BURLA
BORBULHA
OS BURBURINHOS
NÃO INTERCEPTE
A VIDA BREVE
BORBOLETA
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de Manoel de Barros

Baby Blue Azul Existo

UMA ESTRELA AZUL
NO FIRMAMENTO
SUFICIENTE
PARA ETERNIZAR O MOMENTO
VESTÍGIOS DE ENCANTOS
POLVILHOS DE BRILHOS
CINTILANTE SONHO LUNAR
BABY BLUE
VEM ME SALVAR
DOS PESADELOS
VEJO FLUTUAR
EM SEUS ENCARACOLADOS CABELOS
TODOS OS MEUS SEGREDOS
JÁ NÃO SINTO MAIS MEDO DE NADA
DE CISMAS OU FANTASMAS
NÃO HESITO...
OUÇO A SUA VOZ!
SINTO A SUA PRESENÇA
E AZUL EXISTO
 
Carlos Gutierrez
 
 
Curte ai Eu amo música
Curte ai Café com verso

Será que é ela?

EU ANDO PERDIDO NA NOITE
EM RUAS NUAS
EM AVENIDAS ARREPIANTES
EM ALAMEDAS COLANTES
EM BECOS COM TODOS OS ECOS
EU ANDO ATRÁS DE UM SONHO
E CADA VULTO QUE VEJO
PREVEJO A CONCRETUDE
UM POSTE ME ILUDE
UMA LUMINÁRIA ME CEGA
E PRENDE EM SUA ARANDELA
TUDO QUE AINDA PUDE
SALVAR DESSE DIA AINDA RUDE
AINDA CAMINHO
E VEJO À MINHA FRENTE
MAIS UM VULTO
DE COSTAS
ME EXULTO
SERÁ QUE É ELA?



Carlos Gutierrez

Água na Boca

QUEM NUNCA FICOU GRUDADO
DO OUTRO LADO DA VIDRAÇARIA
DA CONFEITARIA
COM OS OLHOS VIDRADOS
DUAS COLMEIAS ESBUGALHADAS
QUEM NUNCA FICOU COM ÁGUA NA BOCA
E COMETEU DOCEMENTE O PECADO DA GULA
QUEM NUNCA FICOU PELA METADE
ENTRE O DESEJO E A FRUSTRAÇÃO
QUE PROVOU O PÃO
E DEIXOU ESCAPAR O CREME
ENQUANTO A GELATINA TREME
E O ROCAMBOLE SE ENCOLHE
ENTRE TANTAS OUTRAS GULOSEIMAS

Carlos Gutierrez


poema em forma de água na boca

Poéticos Caminhos

POÉTICOS CAMINHOS

POSSO TRANSPOR O CÉU
ATÉ MESMO ESTRELAS
SOBRE O CHÃO
SOBRE O SOLO ONDE PISO
POSSO PINTAR ATALHOS
ENTRE ESPINHOS
CARRAPICHOS
CÁCTUS
TULIPAS ROSAS E CRAVOS
POSSO PERDER O RUMO
AO SENTIR O SEU PERFUME
E ESQUECER TODA A ROTA PLANEJADA
POSSO DESAMARRAR O ALL STAR
E TENTAR OUTRO CAMINHO
PARA OS CADARÇOS
POSSO SER O BARBANTE BASTANTE
PARA AMARRAR O QUE ME FAZ FALTA
E SOLTÁ-LO QUANDO A MINHA IMAGINAÇÃO
ASSIM DETERMINAR
UM DIA EU SEI O AZUL CLARO
IGUAL AO ALL STAR
DARÁ LUGAR A UM AZUL MAIS ESCURO
E NÃO HAVERÁ MAIS CAMINHOS...
MAS ENQUANTO A SOLA RESISTIR
E A LONA COBRIR E PROTEGER OS MEUS PÉS
SEGUIREI...
E CADA PEDRA SERÁ UM SÓLIDO VERSO!


Carlos Gutierrez


poema em forma de All Star

Livre

LIVRE
AGORA POSSO DESFRUTAR
DA PAISAGEM DO SEU OLHAR
 
Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de liberdade
· ·

Livros que Amei - Adriana Calcanhotto

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Bolinhas de Gude

BOLINHAS DE GUDE

VÍTREAS GULOSEIMAS
TIRA TEIMAS
TRANSPARENTES
BRILHANTES
PARADAS
OU QUANDO ESTÃO CORRENDO
BOLINHAS DE GUDE
GULOSEIMAS PARA OS DEDOS
A VERMELHA PROCURA A AZUL
PARA O ESTALIDO DE UM BEIJO
GRUDEGRUDE
NÃODESGRUDE
NÃO PUDE
DEIXAR DE VER EM DUAS DELAS
OS SEUS OLHOS ROLANDO
EM TODO A MINHA CAVIDADE ESPERA
 
Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de bolinhas de gude

AFETO

AFETA
QUANDO NÃO HÁ AFETO
TUDO PARA
E SE TORNA ABSURDO
VIVER COMO UM CRIADO MUDO
SEM LIVRO DE CABECEIRA
E UM DESPERTADOR INOPORTUNO
AFEITO À SOLIDÃO
AFETO
PARA NÃO SE SENTIR DESERTO
E REMOVER A AREIA DOS OLHOS
AFETO
PARA ENCONTRAR NA RUA
EM QUALQUER CANTO
PROVIDENCIAL TETO
CALOR PARA O SEU CORPO
E VALOR PARA A SUA MENTE
E O SEU CORAÇÃO
 
 Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de afeto
Foto: poema em forma de afeto

Contemplar

VEJO PASSAR
E SOU PRESENTE
COM OS ÓCULOS ESCUROS
DE FUMÊS FUTUROS
VEJO PASSAR
TANTAS PESSOAS
ROUPAS
CORES SÓBRIAS E BERRANTES
AUTOMÓVEIS
ALUCINANTES E HESITANTES
TRANSEUNTES DISTRAÍDOS E TRANSTORNADOS
VEJO PASSAR
O PASSADO MORA AO MEU LADO
O PRESENTE FOGE DA MINHA PORTA
O FUTURO ESTILHAÇA A MINHA JANELA
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
VER PASSAR - Crônica desta terça-feira no jornal Hoje em Dia


O teatro da rua é constante, mutante. Personagens e performances se alternam. Delicioso sentar-se em frente de casa, numa mesa de bar na calçada, “ver o movimento”. Esquecer a vida, vendo-a se mover nos outros – na diversidade da fauna humana. Alguns espécimes interessantíssimos, exóticos, acesos; a maioria, comuns, triviais, apagados.

Passar e ver passar definem situações opostas. Quem passa não sabe que o assistem, não vê quem o vê. É objeto vulnerável, presa indefesa da mira do outro. O que vê passar aponta e dispara o tiro da crítica.

O repertório de exibições da rua traz bandas, blocos, paradas, passeatas...

A memória sofre à lembrança do dia de “ver passar” o presidente. Duas, três, horas penando no cordão de isolamento. Uniformes impecáveis, penteadíssimos – bonecos de massinha derretendo sob o sol de Vitória. Bandeirinhas do Brasil, de início, espertas, vivas; ao final, cacos verde-amarelos boiando no mar de garotos, mortos de cansaço – pequenas vítimas do patriotismo. Batedores à vista! “É ele, gente! As bandeirinhas! Acenem, acenem! Vai passar”! Passou... No caderno de recordações Juscelino é sede insuportável, fogo subindo dos sapatos Vulcabrás.

No caminho do Banco, um elefante. O office-boy, fascinado, vê passar o circo – cavalos brancos, alegorias, artistas do picadeiro, o leão, o tigre na jaula, macacos... três da tarde, em pleno Centro, a fantasia o captura. Seduzido, divide-se ali mesmo: o “office” com sua pasta de papéis se instala no chão; o “boy” segue o sonho, vai embora com o circo.

Paradas militares fascinam pela cadência, pela ordem. Nos desfiles, armas, máquinas mortíferas se tornam inofensivos objetos da estética bélica. Multidões se postam pra ver passar o poder de fogo das potências – vernissage das guerras. A morte – ninguém foi ali para vê-la, mas está presente como destaque em sua alegoria sinistra e invisível.

Dos espetáculos da rua, um se nota pela extrema delicadeza – noturno, pacífico, saudável, absolutamente silencioso. Dezenas de enormes formigas cabeçudas e velozes. Estar no seu caminho é sinal de sorte – crendice contemporânea. Fique atento! O bando surge do nada – magrelas, espertas, olhos acesos e alma humana. Bicicletas – bom vê-las passar! Melhor ainda... passar com elas.

PARCERIA

QUENTES RIXAS
MAS QUE FERVEM
APENAS EM EBULIÇÕES
SONORAS E POETICAS
CONFLITOS ENTRE PEDRAS
ROLANTES
QUE QUANDO SE TOCAM
PRODUZEM CANÇÕES
E INSPIRAM ROMANCES

Carlos Gutierrez


poema em forma de parceria

[Keith e Mick]

FOTOGRAFIA

FOTOGRAFIA
FILTRA TODOS OS SENTIDOS
E OS PRESERVA
COMO UM FILME INTÍMO
OU UM OUTDOR MAIOR QUE UMA TELA DE CINEMA
FOTOGRAFIA
É ESTRATÉGIA DE LUZES E SOMBRAS
E CORES TAMBÉM
ATÉ UM NEGRO E POLIDO VINIL
PODE ESPELHAR UM VERMELHO SUTIL
PARA MOSTRAR
O SOM DE UMA PAIXÃO
O SANGUE DE UMA DESPEDIDA
OS SEUS SULCOS
VEIAS SONORAS
DERRAMAM MISTERIOSAS
SOMBRAS VIOLETAS
 
Carlos Gutierrez
 
 
SEU POEMA NA POEMÁTICA!

Olha só que incrível esse poema, enviado pelo Marcos Willian! Ele assume diversas formas, não? Pode ser de festa para os baladeiros, de saudosismo para os amantes dos vinis, de cor, de som, de ritmo, de saudade, de música. E o Marcos é fotógrafo, ou seja, é um poeta por profissão! (:

Obrigada pela estrofe, muito bem rimada, Marcos!

domingo, 17 de fevereiro de 2013

CHÁ


TOMO UM CHÁ DE CADEIRA
ERVA CIDREIRA
BEBO UM CHÁ DAS CINCO
ABSINTO
E JÁ NÃO ME SINTO
MAIS CHÁ...TEADO
DEPOIS DE UM CHÁ DE ESPERA
AMARGO BOLDO
CHÁ...MO A GARÇONETE
PREPARA OUTRO CHÁ
CALMANTE
CLARO DE CAMOMILA
E SE NÃO TIVER
UM DE MARACUJÁ
PRÁ ONTEM
PRÁ JÁ
UM PEDIDO MARAJÁ
UMA ERVA
QUE NÃO ENERVA
UM CHÁ CALMANTE
E TONIFICANTE
UM CHÁ...PLIN
 
Carlos Gutierrez
 
 

poema em forma de chá

SINAIS

SINAIS

BASTAM POUCOS SINAIS
PARA SEREM FATAIS
UM OLHAR
UM MOVIMENTO LABIAL
UM TROPEÇO
EM UM DEGRAU
DE UMA ESCADARIA
UM FIO DE CABELO
QUE GRUDOU
EM MINHA RETINA
O SOM DO TILINTAR DE UMA XÍCARA
O AROMA DO CAFÉ EXPRESSO
A FRAGRÂNCIA
QUE FICOU EM MEU PULSO
A SAUDADE SAUDÁVEL
QUE EU NÃO EXPULSO
A VOZ E O TROMPETE
DE CHET BAKER
JUNTO COM O IRRIQUIETO SAXOFONE
DE GERRY MULLIGAN
O BAIXO ACÚSTICO DE RON CARTER
NADA QUE SE DESCARTE
SINAIS
DE UM MUNDO A PARTE
QUE SÓ NÓS DOIS
PODEMOS ENTENDER
 
 
Carlos Gutierrez
 
 

Celso Fonseca & Cibelle - Ela é Carioca.mp4

Poesia não é vã

POESIA NÃO É VÃ
É DIVÃ PÁGINA
QUE REFLETE
REPAGINA
O QUE A GENTE IMAGINA
POESIA É VANGUARDA
 
Carlos Gutierrez
 
 
Leminski

Exatos 50 anos depois da estreia que provocou a melhor impressão nos veteranos Affonso Ávila, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, na Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em 1963, em Belo Horizonte, Leminski ganha, finalmente, um tributo de peso. Chega às livrarias nos próximos dias "Toda Poesia", edição da Companhia das Letras que reúne mais de 600 poemas...

Veja mais em:
http://semioticas1.blogspot.com.br/2013/02/poeta-leminski.html

.

Liberdade


NEM A NEBLINA EMBAÇA
QUEM LIVRE TRAÇA O SEU CAMINHO
MIREM-SE NO VOO DA ÁGUIA
QUE ABRE AS SUAS ASAS AO EXTREMO
PARA ABARCAR TODA A PAISAGEM
E FLUTUAR ILESA DO PESO
DE NÃO SEGUIR OS SEUS DESÍGNIOS
DE NÃO DESFRUTAR DE SUA LIBERDADE
 
Carlos Gutierrez



poema em forma de liberdade

Reflexos


O LÍQUIDO REFLETE O CONCRETO
O ARCO DA TORRE EIFELL
ALGUÉM PERDIDO
EM SEU OLHO DE FERRO
O LÍQUIDO NÃO É DISCRETO
ASSIM COMO A LÁGRIMA
QUE LIQUEFAZ A DOR
NA TENTATIVA DE LAVAR A ALMA
OS REFLEXOS
SURGEM EM TODA PARTE
EM CORES OU EM PRETO E BRANCO
UM SUTIL GESTO
OU UM SOLAVANCO
PRODUZ MAIS REFLEXOS
NEM A SOMBRA DO SILENCIO ESCAPA
ELA DERRAPA E DERRAMA
TODA A TRAMA
QUE TREME
QUE TRINCA
A FIGURA O OBJETO
E A PAISAGEM
 
 
Carlos Gutierrez 




poema em forma de reflexo

Café Expresso

ACORDO
O SONHO AINDA PREPARA
A FUGA
ENQUANTO A CAFETEIRA SUGA
OS GRÃOS DE CAFÉ
ENQUANTO O AÇUCAR
ESPERA A COLHER
BOM DIA!
EXPRESSO DESEJO
DE QUE ELE SEJA
EXPRESSIVAMENTE
IMPRESSIONANTE
DOCE MESMO
SEM ADOÇANTE
FORTE
ESPÊSSO
QUE DESPERTE ATÉ O MEU LADO TRAVÊSSO
 
 
Carlos Gutierrez 


poema em forma de bom dia (:

SALTO

SALTO

QUEDA LIVRE
QUEM NÃO VIVE
DE MEDO E CORAGEM
DE SOBRESSALTOS
DE PLANÍCIES E
PROFUNDIDADES
QUEM NUNCA
EXPERIMENTOU
O POÇO
ARCABOUÇO
BURACO SOLITÁRIO
E O ELEVADO CÉU
REDENTOR VÉU
MESMO AZUL IMAGINÁRIO
SALTO
QUEM NUNCA
ANDOU DE SALTOS ALTOS
E FUGIU DE ASSALTO
E CAMINHOU DESCALÇO
SOBRE AS PEDRAS E ESPINHOS
DOS CAMINHOS?


Carlos Gutierrez


poema em forma de salto

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Flutuantes Tatuagens

FLUTUANTES TATUAGENS

PORQUE ELAS NÃO ADEREM
SOMENTE A PELE
SEMENTE EPIDERME
PORQUE ELAS TRANSITAM
ENTRE TODOS OS MEMBROS
DO CORPO
PORQUE UMA PARTE DELAS
SE DISSOLVE NA PRÓPRIA PELE
E A ALMA NÃO REPELE
O QUE UMA TATUAGEM
CARINHO VIAGEM
GRAVA PROFUNDAMENTE
E NÃO FERE
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
- Tinta da China   Daniela Oliveira

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ENTREMUROS

EU MORO NUM MURO
DE UM LADO ME APURO
DO OUTRO ME DESLEIXO
SORE ELE ME CONFORMO
SOB ELE ME DEFORMO
E ENTRE MUROS
FUROS DE BALAS PERDIDAS
DISPARADAS PELOS MEUS SENTIDOS
OUSADOS OU ESPAVORIDOS
OLHOS FAISCANDO OUSADIAS
OLHOS ESPAVORIDOS
EU MORO NUM MURO
E SOFRO AS AGRURAS
DE PICHAÇÕES
JATOS DE SPRAYS
DECLARAÇÕES ENFÁTICAS
ENIGMÁTICAS
E FRAGMENTADAS
EU MORO NUM MURO
UM NÃO MAIS DO QUE UM MURO
MORAM DENTRO DE MIM

Carlos Gutierrez


poema em forma de muro

Convulsão de Traços

CONVULSÃO DE TRAÇOS

LIBERA TODA MATÉRIA
TODO PESO
TODA PRESSÃO ARTÉRIA
ESPALHA O NANKIM
COMO SE FÔSSE AQUARELA
ESPALHE A SUA PRÓPRIA SOMBRA
EM TODA ESSA LUZ
COMPARTILHE COM ELA
SEUS PLANOS E SONHOS
SEUS ENCONTROS E FUGAS
NO ESPAÇO LISO E ESCORREGADIO
OU ÍNGREME E RUGOSO
DE UMA FOLHA DE CADERNO
E QUE ELA SEJA UMA JANELA
SOBRE A SUA ESCRIVANINHA
LIBERA TODAS AS FIGURAS
TRAÇOS GARATUJAS E LINHAS
DAS SUAS MÃOS
EXTENSÕES DO SEU CÉREBRO
ENTRE EM UMA CONVULSÃO
SENSÍVEL E INTELECTUAL
EXPLOSÃO QUE PONDERA
SEJA ACRÍLICO CRÍTICO
VIDRO QUE NÃO SE QUEBRA
CRISTALIZA

Carlos Gutierrez


- Tinta da China - Daniela Oliveira

A Música

A MÚSICA

A MÚSICA É ESCRITA NA PAUTA
QUE DECODIFICA A ALMA
SONS QUE ABRAÇAM SILÊNCIOS
AGUDOS QUE AGUÇAM OS SENTIDOS
GRAVES QUE REALÇAM OS DESÍGNIOS
A MÚSICA NÃO NECESSITA DE PALAVRAS
PRECISA DE OUVIDOS
E UM SENSÍVEL CORAÇÃO
A MÚSICA PREENCHE QUALQUER SOLIDÃO
ATÉ MESMO DE UM TOSCO BANCO DE JARDIM...
ALGUM PÁSSARO PASSARÁ SOBRE ELE
 
Carlos Gutierrez
poema em forma de música

SEA TU NUBES


Lo que conoces
es tan poco
lo que conoces
de mí
lo que conoces
son mis nubes
son mis silencios
son mis gestos
lo que conoces
de mí
lo que conoces
es la tristeza
de mi casa vista de afuera
son los postigos de mi tristeza
el llamador de mi tristeza.

Pero no sabes
nada
a lo sumo
piensas a veces
que es tan poco
lo que conozco
lo que conozco
de ti
lo que conozco
o sea tus nubes*
o tus silencios
o tus gestos
lo que conozco
es la tristeza
de tu casa vista de afuera
son los postigos de tu tristeza
el llamador de tu tristeza.
Pero no llamas.
Pero no llamo.


*: Alfredo Zitarrosa dice “sea tus nubes”.


L'AMOUR

Que savons nous de l’amour ?

Que savons-nous de l’amour ?
Beaucoup, diront certains,
et si peu en réalité, penseront bien d’autres !

Mais chacun d’entre nous pressent tout à l’intérieur
que nous pouvons apprendre de l’amour
ce qui deviendra l’essentiel de notre existence !

Que l’amour vécu en réciprocité
ajoute de la VIE à la vie,
des émotions à l’émotion,
une vibration particulière
à chacune des heures d’une journée,
et surtout, surtout une qualité d’être au quotidien
qui illumine chaque rencontre.

Que la présence en nous d’un amour est capable
de mobiliser des énergies surprenantes et tenaces.

Qu’il donne à chaque matin de couleurs nouvelles,
qu’il illumine chaque nuit de tous nos désirs,
qu’il ensemence nos rêves les plus fous,
et fortifie nos projets les plus sérieux.

Qu’il attendrit les cœurs les plus imperméables,
qu’il donne à chacun l’envie de se dépasser,
de donner et de partager le meilleur
de tout ses possibles.

Cependant, même si nous ne le savons pas toujours,
nous sentons que tout amour a besoin de soins,
d’attentions et pour le dire plus clairement, d’amour !

Oui, l’amour a besoin d’être aimé, protégez, soutenu,
vivifié par des relations de qualité fondées
sur la confiance, le partage, l’abandon et la créativité
pour éviter de s’enfermer dans la routine,
dans la répétition grise des jours.

Alors n’hésitons pas,
osons apprendre de l’amour
qu’il se vit au présent comme un Présent.
Jacques Salomé

Editorial février 2013

PLURAL

    • SE TENHO QUE VIVER COM ESSA ANGÚSTIA

CHUVA

CHUVA

LÍQUIDAS CICATRIZES
NAS PAREDES
NAS MARQUISES
NAS JANELAS
NOS VIDROS
ESCORREM TAMBÉM
SOBRE AS PÉTALAS
PERSIANAS
DAS FLORES
A CHUVA
REFRESCA
ATÉ MESMO A MELANCOLIA
DO QUE PODE TER SIDO
FESTA OU FRESTA
 
Carlos Gutierrez


Graphite A3 - RAIN - Daniela Oliveira

sábado, 9 de fevereiro de 2013

AMOR À DISTÂNCIA

AMOR A DISTÂNCIA

É TÃO FÁCIL
É TÃO DIFÍCIL
NÃO PRECISA DE ROUPAS NOVAS
DE MAQUIAGENS
EMBALAGENS
BILHETES DE VIAGEM
APENAS DE ARTIFÍCIOS
MAS QUE TAMBÉM PODEM SER
PROFUNDAS VERDADES
EM FORMA DE MENSAGENS
ESCRITAS OU ORAIS
EM IMAGENS E SONS
QUE DIZEM MUITO MAIS
QUE MERAS OU ESMERADAS PALAVRAS
EM SILÊNCIOS MÚTUOS
AMOR À DISTÂNCIA
PRIVILEGIA A ESPERA
AUMENTA A ESPECTATIVA
E RECUPERA DE ALGUMA MANEIRA
COM OUTRO OLHAR
E OUTRA REFLEXÃO
O TEMPO JULGADO ANTES PERDIDO
AMOR À DISTÂNCIA AGUÇA OS SENTIDOS
VALORIZA OS REAIS ENCONTROS
E AQUILATA A SAUDADE
AMOR A DISTÂNCIA NÃO MATA
FAZ RENASCER E CONCEBER
A PESSOA EXATA
AMOR Á DISTÂNCIA
É UM SONHO QUE SE DILATA!

Carlos Gutierrez



poema em forma de amor à distância

BEIJO

UM BEIJO
NÃO É SÓ UM ÚMIDO DESEJO
QUE ESPALHA SOMBRAS SECAS DE AFETOS
UM BEIJO PODE TER MAIS
DO QUE LÁBIOS LÍNGUAS
SILÊNCIOS E ESTALIDOS
GOSTO ACRE DE ALCOOL
AMARGO BITTER DE DESPEDIDA
OU SABOR DE PURO AMOR
GELEIA REAL E DROPS DE MATINÉS
UM BEIJO
MUITAS VEZES
É A RESPOSTA JUSTAPOSTA
DE DOIS SILENCIOS
 
 
Carlos Gutierrez
 
 
poema em forma de beijo