POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















sábado, 31 de maio de 2014

O LADO

o lado qual lado? 
o lado ladeado 
cadeado 
oculto 
o lado vulto 
insulto à liberdade 
o lado 
em confronto 
com o lado revelado 
o lado velado 
pele e veludo 
o lado entre os lados 
dos óculos escuros 
o lado abaixo do lado da tiara 
o lado acima 
que segura o penteado 
o lado armado 
entre cabelos e pensamentos 
o lado da lapela 
que separa ela da jaqueta 
o lado ainda inocente da sarjeta 
o lado de tudo que mora ao lado 
ou ainda não concretizado 
o lado com alarde 
que arde em aventura 
o lado entre o oculto 
e a frente de um muro 
o lado onde apuro 
cada pulo 
o lado 
onde cambaleado 
enfim eu durmo

Carlos Roberto Gutierrez

poetic model

Juliany Pinheiro







quinta-feira, 29 de maio de 2014

TÓPICOS

Não me repito, visto que o exagero é tão intrínseco.
Excessiva, lá ia eu como um expresso sobre o brilho quente dos trilhos.
O estalar das pedrinhas de gelo, a fumaça tragada sem moderação
nada mais foi preciso, de bom grado a devoção aceita.
Tudo em demasia, de cafés e violão, divagações e risos.
Exagero de dizeres e melodias, beijos, desejos.É de afeto.
O excesso transposto, um beijo em outro beijo.
Novos rumos, descobertas paralelas, descompasso revidado.
Apenas o caderno era confidente, ele não enxergava o solcomo devia ser, exceto por ela...a inominável.
O balé acabou, novos olhos atormentam o estilo
vislumbrando o vestido mal experimentado.
Rabiscos correm soltos determinando alterações,
latitudes e longitudes.
O brilho tonto dos trilhos apontaram a direção dos timbres pesados.
Goles e sabores.
O excesso revertido a falta do ter e fazer, ou não.
Não me repito, mesmo ainda esperando ouvir os excessosdo estalar e dos tragos ocultos.
Do inicio urbano ao contemporâneo provincial.


Desirée Gomes






VICITUDES

Gosto dos seus vícios
e virtudes
Tudo que até hoje
eu pude
absorver de você
Seu jeito natural de ser
seu jeito Pagu e pagão
frenesi e paixão de viver
Seu cabelo solto e revolto
ou preso num chapéu coco
O seu coração de maçã
e todas as nuances do seu humor
nem sempre rude
nem sempre sarcástico
nem sempre ácido
às vezes pateta
às vezes singelo
às vezes plácido
humor com rumor
de lágrima infantil
hostil
a quem tem pressa
de apagar as velas
e devorar o bolo da festa
Gosto de você
de qualquer forma
com ou sem norma
sem bulas
e com todos os efeitos
colaterais
Gosto porque gosto de você
fora ou dentro da moda
com gim ou com soda
simples ou excêntrica
fugitiva ou excessiva
você não peca
por ser única
você é múltipla
muitas
todas
intelecta
sapeca
sofisticada
fada
bruxinha
sensível
poetiza
profeta
sonhadora
cientista
estrela
roteirista
mágica
trapezista
anarquista
domadora de feras
partner corajosa
protagonista
sem arrogâncias
Gosto da sua pele
que se viciou em um perfume
escondido no bistrô
Gosto dos seus lábios
dominados
pelo licor de framboezas
e pelo turco tabaco
Gosto dos seus olhos!
neles eu estou viciado
Gosto de acordar assustado
com o empurrão
na claraboia do sonho
que eu tive ao seu lado!





Carlos Roberto Gutierrez





PARTILHA


Sei de quase nada, mas gosto dos seus vicios,
o malandro do chapéu-coco disse que devias vir
para ver os meus olhos tristonhos,
tomei-lhe a cartola e abri as cortinas.
Mas gosto de suas virtudes,
o seu coração de maçã caramelada, do amor.
Tudo o que pude absorver de você, nuances atenuantes,
me faz tangir os olhos as lembranças, que ainda nem vivemos
muitas, unicamente múltiplas.
E é do teu alfabeto que as composições tomam forma
orbitam pensamentos circulares de lucidez lúdica
até a terra de diamantes, quilates sedutores repousando
nos sentidos evaporados, non cense e natural.
Partilha, esse é o nome.
Sei que as vezes me perco, tudo me embaralha,
então, paro e olho o que ainda ficou por dizer, um pretexto
para que a poderosa locomotiva continue a fazer sombra na estação,
Aguardo, te guardo, ardo.
Esta é minha transgressão, gosto das virtudes e vicios,
partilhados.
Apagar as velas e devorar o bolo da festa.


Desirée Gomes





GAITA

Desliza sobre os meus lábios uma prateada gaita

e em cada filete percorrido


sentido em sons e lágrimas

confissões, revoltas e mágoas

em cada filete um degrau da infinita escada

que eu subi, tropecei e retornei em minha vida!

Desliza sobre os meus lábios uma prateada gaita,

ora com o gosto amargo de um beco escuro do Harley,

ora com o gosto do beijo da mulher amada

que entendeu os meus percalços durante a jornada

e estendeu a mão, quando eu estava caído na sarjeta

da mesma forma que dividiu os seus braços, quando eu estava no auge!

Só você sabe do meu medo e da minha coragem!

Só você sabe quando eu sou fadiga e quando eu sou viagem!

Só você sabe quando eu sou sossego e quando eu sou aventura!

Desliza sobre os meus lábios uma gaita prateada,

trazendo a sombra de uma árvore perdida na infância

e toda a algazarra das estrepolias da juventude

com toda sua inquietude e anarquia

toda a desarmonia que só uma harmônica pode entender e interpretar

e louvar os tenros frutos da maturidade!

Desliza sobre os meus lábios uma gaita prateada!




Carlos Roberto Gutierrez






domingo, 25 de maio de 2014

A LOST DAY

A Lost day
As oito horas e dez minutos, via a cidade de certa altitude
Ansiedade do caminho: apertar os cintos.
Para esquentar os lábios: pedi café
Acompanhado do sempre cigarro tragado.

A roer unhas, ensaio os argumentos
E me ponho a espreitar rostos de desembarque
Como que saídos de um embrulho rasgado, até a surpresa
O moço do chapéu e camisa xadrez, a mastigar meu sorriso.

O casaco preto e branco será em vão, já que o calor vem da pele.
Entro no carro, as ruas da cidade quadrada: explodem lembranças
Sentada, o ouvia pelo caminho: perfeito imperfeito.
Dois mundos se reencontram, eu, perdida em seus dedos.

Presente recebido, peculiaridade inesquecível!
Depois do desacostume o dia passa rápido
A despedida é molhada, traz gosto de novos ruídos
Pudores ao chão e abraço sustentando amor destemido.

Volto a apertar os cintos
Os céus agora abrigam ao meu coração batidas sinuosas
E, rimando o dia prateado, degusto detalhes leoninícos
Com sapatos rangendo calçadas, mando beijos litorâneos.





Desirée Gomes





ESCONDERIJO

tanto tempo...
escondido
escondendo
na escolta
de medos e segredos
no conter
cointainer
coração preso
na ilusão de escapar ileso
de suportar todo o peso
que o vazio produz
tanto tempo...
protelando
tolamente pensando
estar se protegendo
no flagelo das horas
esconderijo
no vulnerável beco
e os dedos dos pés feridos
espremidos dentro das botas
tanto tempo...
prá que ue aprendesse
e valorizasse o prazer da aventura
não suporto usar meias
nem de tecidos e verdades
quero refrescar os meus pensamentos
e os meus dedos
em líquidos afagos
de um riacho ou de um lago

Carlos Roberto Gutierrez

poema em forma de sensação
 
 
 
Foto: poema em forma de sensação

Norah Jones - Summertime

Fim de Outono

FIM DE OUTONO

Outono
lembra abandono
melancolias
folhas ao chão
Outono
estação transição
do verão para o inverno
Outono
propícia estação
para a reflexão
entre o calor dos desejos
e os rigores da gélida solidão.
Outono um transtorno paras as árvores
mas também a sua própria regeneração...
as folhas as desnudam
porém as fertilizam
Outono..
a.pele pode perder o seu viço...
resseca-se como as folhas...
merece cuidados...
hidratação...
tal qual os pensamentos
perfurando a neve do futuro
as recordações crepitando na lareira da memória
Outono o aconchego de si mesmo...
o feltro que filtra e protege as intempéries
e todo o clima pesado do medo

Carlos Roberto Gutierrez

pintura de Lima Junior
 
 
 
Foto: FIM DE OUTONO

Outono 
lembra abandono 
melancolias 
folhas ao chão 
Outono 
estação transição 
do verão para o inverno 
Outono 
propícia estação 
para a reflexão 
entre o calor dos desejos 
e os rigores da gélida solidão. 
Outono um transtorno paras as árvores 
mas também a sua própria regeneração...
as folhas as desnudam 
porém as fertilizam 
Outono..
a.pele pode perder o seu viço...
resseca-se como as folhas...
merece cuidados...
hidratação...
tal qual os pensamentos 
perfurando a neve do futuro 
as recordações crepitando na lareira da memória 
Outono o aconchego de si mesmo...
o feltro que filtra e protege as intempéries 
e todo o clima pesado do medo

Carlos Roberto Gutierrez

pintura de Lima Junior

SÚBITO


súbito
Me chame, dentro de um poema. 
Num vândalo verso.
Me chame, no chapéu de Chanel.
Me chame, no filme mudo. 
Na genuína francesa.
Me chame, no alvoroço de mulher.
Me chame, em Charleston. 
No momento eufórico.
Me chame, nos colares.
Me chame, na trama. 
Na cópia do pretexto.
Me chame, nos corações inocentes.
Me chame, no estilo. 
Na nobre sensibilidade.
Me chame, por você.
Você.

Desirée Gomes
 
 
 

sábado, 24 de maio de 2014

BLUE VELVET

BLUE VELVET

eu adoro o que ela ilustra:
todo o céu
que se acomoda em seu vestido
e ainda se reparte em luvas
como doces cachos de uvas
ou o raro agáve sangue de tequila
que compartilha a sua pele cereja
pelos decotes em singelos recortes
que absolvem desejos...
eu adoro tudo o que ela ilustra
e não frustra nenhum sonho de todos os sentidos....
há essa magia...
esse sol que rodopia em volta do microfone...
posso ouví-la mesmo no mais completo silêncio...
em seu colar vejo as teclas de um piano intenso...
em seus cabelos uma parte da silhueta de um baixo acústico
e em sua face inclinada ao sabor da música
faz girar o salão dos sentidos...
toda a coreografia que possa ser cabal e cabível
em um cenário azul e pretensamente infinito

Carlos Roberto Gutierrez

ilustração de Lima Junior
 
 
 
 

TEMPESTADE

Vem!
Chega mais!
em minha tempestade
Vem!
de alguma nuvem
que ainda não chora
com aquele guarda chuva
esquecido fora de hora
o dia já está tão escuro
o tempo está assustador
os raios riscam o céu
como espadas flutuantes
lâminas conflitantes
enquanto a chuva intermitente
enxagua as ruas
formam poças espelhos
entopem os bueiros
e deixa vulneráveis todos os pisos
naturais e impermeáveis
Vem! venha como um raio fatal
nesse todo temporal
enxugar o meu corpo
os meus olhos encharcados
Vem me proteger
com o seu guarda chuva invocado
a sua capa de nylon
e galochas sobressalentes
e a sua lanterna interior
Vem! me seduz
seja a minha luz
que reduz a tempestade



Carlos Roberto Gutierrez





BOB DYLAN 73

a foto de Dylanesco.
Bob Dylan, 73 anos: http://bit.ly/1vXayje.

"A estrada é a casa do andarilho. A perseguição é o alvo do caçador. A inspiração é o prazer do pintor. E a vida, tão efêmera quanto imprevisível, é ao mesmo tempo inspiração, perseguição e estrada para Bob Dylan."
 
 
 
 
 
 
Mais do que saber jogar o jogo, Bob Dylan parece ser o único a conseguir ditar as regras. Após 73 anos de vida, 61 discos, mais de 500 músicas e cerca de 3.300 shows, Bob Dylan se mantém como um dos únicos de sua idade – e um dos poucos músicos de hoje em dia – a conseguir se reinventar tantas e tantas vezes.
Talvez seja repetitivo dizer isso, mas ainda me surpreende a maneira como Bob Dylan se expressa. Se no ano passado ele resolveu alterar alguns versos de canções dos anos 70 (“Simple Twist of Fate” e “Tangled Up In Blue”), em abril trouxe “Workingman’s Blues #2”, de 2006, com novas estrofes e um arranjo completamente diferente do original.
Agora, há apenas algumas semanas, ele surpreende a todos ao disponibilizar um cover de Frank Sinatra para um próximo disco – dois anos após seu último de inéditas. “Tempest” é um disco pesado e raivoso – Dylan late, grunhe e esbraveja verdades e reflexões. Um par de anos depois, ele volta calmo e com uma voz bem distante da rouquidão pigarreada que registrou em 2012. E esse são apenas dois exemplos.
As duas frases introdutórios talvez sejam os melhores conceitos para conseguir definí-lo como artista. A estrada é a casa do andarilho. A perseguição é o alvo do caçador. A inspiração é o prazer do pintor. E a vida, tão efêmera quanto imprevisível, é ao mesmo tempo inspiração, perseguição e estrada para Bob Dylan.
É preciso admitir que ele parou de explorar novos mundos – como fez em outros tempos ao misturar folk e rock, bíblia e rock, poesia e rock… – mas isso não é descrédito, apenas escolha. Bob preferiu ignorar toda a galáxia para focar esforços em esmiuçar e descobrir cada detalhe de uma terra única e desconhecida. A natureza dylanesca é tão complexa quanto a nossa; a fauna e flora possuem os mais diversos tipos de sentimentos, pensamentos e ideiais. E tudo está em constante transformação.
Ele, observando e vivendo dia após dia, é o único a conseguir descrever com esmero todos os meandros desse mundo que reflete o nosso. E nós, meros mortais do planeta terra, só podemos saudá-lo por mais um ano com a gente.
Parabéns, Mr. Dylan.


 

Sarah Vaughan - L O V E

sexta-feira, 23 de maio de 2014

LETREIRO RELUZENTE


Dançou e gargalhou como se a música lhe encarasse aos olhos
Andou na contramão triturando o caminho sólido
Por o pecado de lado, por esse chá na mesa
Ricochetear o texto ácido e a concessão ao perdão
A ponto de partir atravessou o céu dourado
Pisando os soluços com seus passos lógicos
Guardou a gota que faltava entre seus prelúdios
Acordou nadando na cama, no mar de lençois
Do outro lado do quarto sentou como num barco
Flutuou no desfecho como um pacote embriagado
Derivando os devotos do boteco flácido
Sorriu vendo a construção de sal grosso
Como se o carpinteiro renitente te cantasse mantras
Morreu afiadíssimo vendo murchar a festa
sorriso derradeiro na distância, comumente decifrado
Parece pouco?
Pôr esse chá na mesa e ouvir a música novamente.

Desirée Gomes
 
 
 

OLHAR DE PEIXE MORTO

PRESENTE
DO MAGNÍFICO ARTISTA PLÁSTICO Lima Junior

AFINIDADES

AFINIDADES

TEMOS ALGO EM COMUM:
O AMOR ÀS ARTES
EM TODO O TEMPO E TODA PARTE
QUANDO VOCÊ VEM EM VERSOS
E EU VOLTO POESIA
QUANDO EU ESCULPO A SUA FACE
NA COREOGRAFIA DE UM SONHO
QUANDO EU OUÇO UMA MÚSICA
E ME ABANDONO EM TODA A SUA SAUDADE
QUANDO EU ME REBELO EM UM ROCK
E ENCONTRO A PAZ DO SEU JAZZ
OU VICE VERSA
TEMOS ALGO EM COMUM
QUANDO VOCÊ CONVERSA EU SILENCIO
TEMOS ALCOOL EM COMUM
QUANDO VOCÊ É LICOR EU SOU CONHAQUE
PARA SENTIR ME FORTE DENTRO DESSA PAIXÃO
QUANDO VOCÊ É A ESPUMA DA CERVEJA
QUE TRANSBORDA POR TODA A BORDA
EU SOU UM ESPUMANTE DE AINDA UM TÍMIDO DESEJO
TEMOS ALGO EM COMUM
O VELADO TEMOR
AQUELE RUMOR
QUE BEBE TODA A DOR
NA RESSACA DAS HORAS
NAS PEDRAS DE GELO
QUE OLHAM COM MEDO
O ESPELHO DE UMA LAREIRA
TEMOS ALGO EM COMUM
TALVEZ MAIS QUE UM
TEMOS AFINIDADES
SÓ NOSSAS SAUDADES SABEM

Carlos Roberto Gutierrez

poema em forma de afinidades

cheers!
Foto: poema em forma de afinidades cheers!
 
 
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

OLHAR


Esse seu olhar


que me faz sonhar

e que pode me levar

a toda felicidade

seja no campo

ou na cidade

em qualquer lugar

Esse seu olhar

profundo e misterioso

que eu não tenho pressa de decifrar

esse seu olhar que ao mesmo tempo me intriga

consegue esclarecer a minha vida

consegue salvar os meus versos

nessa poética trilha

Esse seu olhar

é continente

para abarcar todo o amor que o meu coração sente

Esse seu olhar

 

é ilha que compartilha

os meus sobreviventes

Esse seu olhar

de frente ou de esguelha

quando aos meus olhos fica rente

espelha tudo que eu almejei encontrar



Carlos Roberto Gutierrez 


...uma recaída romântica....foto linda da minha amiga de versos

Lenine - Todas Elas Juntas Num Só Ser

VOLÁTIL ORQUÍDEA


Foto: Mesmo que tudo se inflame
que todos os vulcões despertem
e larvas em levas derramem
os meus olhos ardendo em chamas
ainda hão de conseguir se refrescar
no colírio violeta que a sua beleza respinga
Volátil orquídea que me hipnotiza
os meus versos grudam em skates diversos
para não lhe perder
Mesmo que haja turbulências e panes
Juliany ficará retida em minhas retinas
como uma dançarina numa tela de Degas
como uma Pagu no coração de Oswald
como Yoko nas lentes de Lennon
nas peles de BowieMesmo que tudo se inflame
que todos os vulcões despertem
e larvas em levas derramem
os meus olhos ardendo em chamas
ainda hão de conseguir se refrescar
no colírio violeta que a sua beleza respinga
Volátil orquídea que me hipnotiza
os meus versos grudam em skates diversos
para não lhe perder
Mesmo que haja turbulências e panes
Juliany ficará retida em minhas retinas
como uma dançarina numa tela de Degas
como uma Pagu no coração de Oswald
como Yoko nas lentes de Lennon
nas peles de Bowie



model: Juliany


Carlos Roberto Gutierrez

URBANÓIDES



Urbanóides cruzam o meu caminho
A cidade cresce
obedece os desígnios da metrópole
Abre-se mais uma rua
Quatro esquinas inéditas
a serem disputadas
por prostitutas mendingos
camelôs e pontos de venda de drogas
A cidade cresce
desenfreadamente
e paradoxalmente
o espaço diminui
e mais nos aborrece
com as suas areias movediças
ferros retorcidos
grades vulneráveis
cercas eletricas
cães turbinados
Mais uma rua...nasce já espúria
na fúria do trânsito...
Urbanóides cruzam o meu caminho!

Eu que sonhava lhe encontrar o mais rápido possível
vejo consternado
que o banco do jardim não mais existe
nem o próprio jardim
nenhuma pétala de lembrança sequer!
Mais uma rua
que se percebe turva
na reta ou na curva
na chuva de lágrimas...
a cidade que prevejo violenta
pelo estampido dos tiros
em seu escuro labirinto
que pressinto agitada
nos acertos de contas
nos desprezos e afrontas
Eu saí de casa há pouco tempo
prá não ficar louco e entediado
só para olhar o teto azul da noite
e contemplar o efeito discreto da opaca lua
e embaralhar as órbitas dos meus olhos
em estrelas
Eu saí de casa...transtornado
nem me lembro se fechei as janelas e as portas
Onde estão as minhas chaves?
Urbanóides cruzam o meu caminho!
Alguns se vestem sóbrios
com engomados pulsos e colarinhos
outros aparecem maltrapilhos
mostrando os seus rasgos e feridas
Uma pasta negra executiva passa mais depressa
que o seu dono
Um boné rebelde foge da cabeça do office boy
um pedaço de lingerie abraça desengonçado uma lata de lixo
um cão cobiça galinhas nuas na máquina de assar frangos
um recorte de notícias superadas
cobrem o corpo de um pedintes
policiais estouram um bingo clandestino
Urbanóides cortam o meu caminho!
Eu saí de casa
calcei o velho tênis
de cadarços largados
línguas de lona seca
estrelas desbotadas
sola quase sem pele de silicone
Onde amor você está?
me responde
Urbanóides cortam o meu caminho!

camuflei o tubo de spray
e procurei o muro possível
mas há tiras por todos os lados
assim como extorsões
de emoções e bens materiais
Bico calado! bico calado!
quero ao menos pichar o seu nome
Estou com fome!
vou entrar aqui mesmo
nesse bar ordinário
Será que há algo para comer
para forrar o estômago?
se não tiver
recorro ao meu âmago
amargo e experimento
o fermento cruel do fel do tormento
da selva de pedra
com os seus urbanóides

POEMA EM CONJUNTO


Desirée Gomes
 
 


Carlos Roberto Gutierrez

domingo, 18 de maio de 2014

METRÓPOLE

METRÓPOLE

Na metrópole
contar passos e compassos
salto alto em equilibrio no beco escuro
esperar o enlace na cintura
pisar no impisável.
A ausência tem efeito contrário
não dorme!
olha da janela os ventos altos
mastigando silêncios
costura rajadas de lembranças
ao delírio de quem conta carneiros
Trânsito com contagem regressiva
lastimando um alfabeto esquecido
contudo, organizado ao som de tamancos
e badalos vorazes
estopim marcando a letra da construção
luzes de automóveis riscam a paisagem
e buzinas em repouso
Na varanda um tilintar total que seduz,
um jazz que não é mudez
apresentada com açúcar e morangos
a face descoberta ao anoitecer
recua da trama passional
tomando a cidade as duas mãos,
contrafluxo.
Cortinas fechadas,
o assobio cantarola:
amo a ti em tantas outras faces!

Desirée Gomes