POESÓ

TUDO PODE VIRAR PÓ
OU
POEMA





















domingo, 24 de agosto de 2014

Maçãs Vermelhas

Maçãs
 E deixar pra trás todas essas varandas?
Deixar escrito flores, floricultura, gotas de chuva?
Deixar aqui toda essa coca-cola-chiclete-cinzeiro?
E tem tanto som em minha garganta!
Pra trás deixar um pomar de plástico
com frutas de isopor em terra
de vidro em pó e farinha de trigo,
porque pisar nesse veludo
e beijar a cara amassada do travesseiro mal dormido
em noite de sol, j
já não convém ás minhas divagações levemente trincadas,
restauradas com goma à base de pólen, alcatrão e trivialidades.
E num dia, hoje talvez, romper a cápsula guardiã
da fluorescência magnífica que adjetiva
a tal poliglota refinada musicista pra permanecer intacta
e repousante no seu cotidiano maléfico, sangue, nervos e tecidos,
sejam tecidos estampados ou negros,
não importa porque a porta do sorriso sempre fica aberta.
E deixar tudo isso pra trás? São tantas frutas brotando!
Talvez eu deixe ou leve pra trás.
Talvez, uma vez, não sei.

Talvez tudo não passe de um belo pomar.

Desirée Gomes





Um Dia Amarelo


Dia Amarelo
Um dia amarelo
intensamente belo
um dia amarelo
que fez acordar Van Gogh
grogue por tanta luz
e beleza
um girassol sobre a mesa
um chapéu de palha
para não esquentar a cabeça
um cavalete aberto
para abraçar uma virgem tela
que deseja mais que o carvão
da lareira da noite fria passada
deseja mais do que a translúcida aquarela
do dia que amarelo começa
deseja o óleo a resina e o verniz
para eternizar os seus carinhos
gestos de afetos
rápidos precisos e desesperados
arremessados por suas espátulas
e cerdas dos seus pincéis
carretéis de sonhos
que lutam contra os medonhos pesadelos
a minha orelha sangra
e derrama o vermelho na tela
para o sol ficar mais exuberante
os meus ouvidos
no mar vermelho suspiram
os seus segredos
a sua voz azul!

Carlos Roberto Gutierrez