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OU
POEMA





















terça-feira, 2 de abril de 2019

Une chanson désespérée

PABLO NERUDA
Une chanson désespérée
Ton souvenir surgit de la nuit où je suis.
La rivière à la mer noue sa plainte obstinée.
Abandonné comme les quais dans le matin.
C'est l'heure de partir, ô toi l'abandonné!
Des corolles tombant, pluie froide sur mon coeur.
Ô sentine de décombres, grotte féroce au naufragé!
En toi se sont accumulés avec les guerres les envols.
Les oiseaux de mon chant de toi prirent essor.
Tu as tout englouti, comme fait le lointain.
Comme la mer, comme le temps. Et tout en toi fut un naufrage!
De l'assaut, du baiser c'était l'heure joyeuse.
lueur de la stupeur qui brûlait comme un phare.
Anxiété de pilote et furie de plongeur aveugle,
trouble ivresse d'amour, tout en toi fut naufrage!
Mon âme ailée, blessée, dans l'enfance de brume.
Explorateur perdu, tout en toi fut naufrage!
Tu enlaças la douleur, tu t'accrochas au désir.
La tristesse te renversa et tout en toi fut un naufrage!
Mais j'ai fait reculer la muraille de l'ombre,
j'ai marché au-delà du désir et de l'acte.
Ô ma chair, chair de la femme aimée, de la femme perdue,
je t'évoque et je fais de toi un chant à l'heure humide.
Tu reçus l'infinie tendresse comme un vase,
et l'oubli infini te brisa comme un vase.
Dans la noire, la noire solitude des îles,
c'est là, femme d'amour, que tes bras m'accueillirent.
C'était la soif, la faim, et toi tu fus le fruit.
C'était le deuil, les ruines et tu fus le miracle.
Femme, femme, comment as-tu pu m'enfermer
dans la croix de tes bras, la terre de ton âme.
Mon désir de toi fut le plus terrible et le plus court,
le plus désordonné, ivre, tendu, avide.
Cimetière de baisers, dans tes tombes survit le feu,
et becquetée d'oiseaux la grappe brûle encore.
Ô la bouche mordue, ô les membres baisés,
ô les dents affamées, ô les corps enlacés.
Furieux accouplement de l'espoir et l'effort
qui nous noua tous deux et nous désespéra.
La tendresse, son eau, sa farine légère.
Et le mot commencé à peine sur les lèvres.
Ce fut là le destin où allait mon désir,
où mon désir tomba, tout en toi fut naufrage!
Ô sentine de décombres, tout est retombé sur toi,
toute la douleur tu l'as dite et toute la douleur t'étouffe.
De tombe en tombe encore tu brûlas et chantas.
Debout comme un marin à la proue d'un navire.
Et tu as fleuri dans des chants, tu t'es brisé dans des courants.
Ô sentine de décombres, puits ouvert de l'amertume.
Plongeur aveugle et pâle, infortuné frondeur,
explorateur perdu, tout en toi fut naufrage!
C'est l'heure de partir, c'est l'heure dure et froide
que la nuit toujours fixe à la suite des heures.
La mer fait aux rochers sa ceinture de bruit.
Froide l'étoile monte et noir l'oiseau émigre.
Abandonné comme les quais dans le matin.
Et seule dans mes mains se tord l'ombre tremblante.
Oui, bien plus loin que tout. Combien plus loin que tout.
C'est l'heure de partir. Ô toi l'abandonné.
Especial Pablo Neruda

Uma música desesperada

A tua lembrança surge da noite em que estou.
O Rio ao mar está a fazer a sua queixa obstinada.

Abandonado como as docas de manhã.
Está na hora de ir, ó tu o abandonado!

Dos caindo, chuva fria no meu coração.
Ó Capitão de escombros, caverna feroz no náufrago!

Em ti se acumularam com as guerras os remessas.
As aves do meu canto de você se tomaram.

Você engoliu tudo, como faz o distante.
Como o mar, como o tempo. E tudo em você foi um naufrágio!

Do ataque, do beijo foi a hora alegre.
Brilho da estupor que ardia como um farol.

Ansiedade de piloto e fúria de mergulhador cego,
Transtorno embriagado de amor, tudo em você foi naufrágio!

Minha alma alada, ferida, na infância de neblina.
Explorador perdido, tudo em você foi naufrágio!

Você enlaças a dor, você se accrochas ao desejo.
A tristeza te derrubou e tudo em ti foi um naufrágio!

Mas eu fiz recuar a muralha da sombra,
Eu andei além do desejo e do ato.

Ó minha carne, carne da mulher amada, da mulher perdida,
Eu te falo e faço de você um canto na hora molhada.

Você recebeu a infinita ternura como um vaso,
E o esquecimento infinito te brisa como um vaso.

Na Negra, a negra solidão das ilhas,
É aqui, mulher de amor, que seus braços me receberam.

Foi a sede, a fome, e tu foste o fruto.
Foi o luto, as ruínas e você foi o milagre.

Mulher, mulher, como você pode me trancar?
Na Cruz dos teus braços, a terra da tua alma.

Meu desejo de você foi o mais terrível e mais curto,
O mais bagunçado, bêbado, tenso, ávido.

Cemitério de beijos, em seus túmulos sobrevive o fogo,
E Becquetée de aves o cacho ainda arde.

Ó a boca mordida, ó os membros fodidos,
Ó os dentes famintos, ó os corpos abraçados.

Irado acasalamento de esperança e esforço
Que nos, a ambos e nos désespéra.

A ternura, a sua água, a sua farinha leve.
E a palavra começou mal nos lábios.

Este foi o destino para onde ia o meu desejo,
Onde o meu desejo caiu, tudo em ti foi naufrágio!

Ó Capitão de escombros, tudo está em cima de você,
Toda a dor você disse e toda a dor te sufoca.

De cai em cai ainda você brûlas e chantas.
De pé como um marinheiro na proa de um navio.

E você floresceu em músicas, você se quebrou em correntes.
Ó Capitão de escombros, poço aberto da amargura.

Mergulhador cego e pálido, infeliz rebelde,
Explorador perdido, tudo em você foi naufrágio!

Hora de ir embora, é hora dura e fria.
Que a noite sempre fixa na sequência das horas.

O mar faz às rochas o seu cinto de ruído.
Fria a estrela sobe e preto o pássaro emigra.

Abandonado como as docas de manhã.
E sozinha nas minhas mãos se torce a sombra tremor.

Sim, muito mais longe do que tudo. Quanto mais longe do que tudo.

Está na hora de ir embora. Oh, você o abandonou.

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