Confesso que GIBI
gibi muito
atravessei em claro noites e noites...
confesso que eu gibi
e ainda os procuro em todos os cantos...
ordenados e revirados
bagunçados como o quarto do Zozó
Procuro-os
em bancas de jornais
sebos de verdade
sebos virtuais
e mais onde eu puder procurar...
Quantos deles passaram em minhas mãos?
Quantos deles meus olhos namoraram/
Quantos heróis
vilões
e heroínas fatais
os meus olhos desejaram
Confesso que eu gibi
um jeito que escolhi
para suprir a minha fragilidade...
me espelhar em tiras
em preto e branco
delineadas no fico bico de pena
carregado de negro nanquim
ou ricamente coloridas
como arcos-íris sem fim
Amava e ainda amo
os traços suaves e vigorosos
os contornos delicados de Jane
Patty Pippermint e Diana Palmer
as expressões marcantes
dos heróis e vilões mascarados
os anéis de caveira
as armas de prata
o tropel de cavalos selvagens
Confesso que eu gibi
bebi muito dessas fontes gráficas
dos balões de estórias sem graça
e outras tão profundas e enigmáticas
Confesso que ueu gibi
Já fui o Príncipe Valente
um herói medieval
com toda armadura e metal
Já fui Mandraque
colei um estúpido bigode
e um ridículo cavanhaque
comprei um manual de magia
de araque
na adolescência a gente pensa que consegue o amor
apenas colocando as nossas mãos as cegas
dentro de uma cartola ou fraque que talvez
um escorpião se escondeu...
Confesso que eu gibi
nasci...morri...sobrevivi...
tantas vezes...
com o corpo fechado de um Fantasma
e o coração aberto de Charlie Brown
Confesso que eu me permiti
gastar tanto tempo em gibis...
encher as estantes
de personagens errantes...
trocar alguns doces
para colecionar todos os seus caminhos...
Carlos Gutierrez