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POEMA





















sexta-feira, 6 de junho de 2014

Canção Adolescente


Canção Adolescente

Eu quis fazer uma canção adolescente
que não fosse aborrecente
que resolvesse todo o QUIZ
e todos os XIS dos problemas
e preservasse o lado inocente de viver
Não imaginava que fosse tão difícil
como encontrar a figurinha carimbada
do álbum ilustrado
ou solucionar o cubo mágico
Fazê-la sem sê-la tão conivente
a interesses tão mesquinhamente adultos
- malditos vultos - estraga-prazeres 






Eu quis fazer uma canção adolescente
com a cara de fracasso de Charlie Brown
e as peripécias de Snoopy
e a elasticidade do estilingue
que só atinge o canto dos pássaros
e assim abafar os resmungos de Marcie

com doces colibris beijos
e extirpar os fungos com novas flores
e fazer o amor sobrepor o bolor do rancor
no vapor de uma réplica de locomotiva
emotiva a todos os trilhos
Eu quis trazer de volta
na revolta desses tempos duros e cruéis
a algazarra das matinés
quando assistia pela oitava vez consecutiva
os Reis do Iê-Iê-Iê
Eu quis lembrar todos os volteios
todos as opções
enquanto olhava os encaixes
do meu canivete de escoteiro
todos os ensaios
para tentar tocar os seus dedos
Eu quis ser natural como um banho de rio
como a água que jorra de uma cachoeira
Eu quis lhe surpreender como uma chuva de verão
tão natural qual o esvoaçar da crina de um cavalo
no resvalo do vento vâssalo
Eu quis girar o carrossel
e ser o corcel que você escolheu
para flutuar os seus sonhos
Eu quis fazer uma canção adolescente
despreocupada e inconsequente
sem justas causas e prováveis efeitos
apenas o encanto efêmero de uma brincadeira
Uma canção de acordes básicos
e doces melodias
Uma canção fácil que virasse o dia
seguisse a noite em sonho ou vígilia
e no assobio do banho matinal
que se integrasse ao cereal
ao espêsso mel e à mordida da maçã
atraente vermelha
que fosse absorvida por um sorriso
que trouxesse em um canto da boca
o lado erótico e sensual
e no outro canto o lado emotivo e de espanto
de quem se prepara para o primeiro beijo
Um som que pulasse como um grilo
e a tocasse como o bote fatal de uma serpente
Uma canção em que eu pudesse vê-la
no céu da minha imaginação
e gravá-la para sempre
no Junglebox do meu coração...
e a ficha se viciasse nessa canção
Carlos Roberto Gutierrez

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